Efectivamente, o tema sobre o qual vou dissertar tem a ver com a interacção dos sons com os sentidos e com os sentimentos.
Após o início das aulas desta cadeira, foi sugerido pelo Professor a abordagem a um tema livre mas condicionado à vertente escolástica, tendo em vista um espectáculo ou uma análise a uma obra, onde se faria o posterior enquadramento do trabalho versus matéria das aulas leccionadas. Assim, irei efectuar a ligação entre as artes e o processo de junção de sentidos e sentimentos.
Antes de caminhar para a abordagem do trabalho, e dar a conhecer o pensamento do qual é efectuado a base analítica do concerto ao vivo, será de bom grado demonstrar a vida de Wagner e assim como era seu desejo uma obra de arte é complexa, pela união de todas as artes como ele desejava. Parafraseando Richard Wagner, que nasceu a 22 de Maio de 1813 em Leipzig na Alemanha, «terá que ser determinado por tudo o que lhe surge perante os olhos».
A atribulada vida pessoal de Wagner não o impedia de criar. Assim, viajando pela Europa ou fixo nalgum lugar, continuava a compor as obras que lhe garantiriam lugar na posteridade: O Navio Fantasma, 1843, Tannhauser, 1845, Lohengrin, 1850, Tristão e Isolda, 1865, Os Mestres Cantores de Nuremberg, 1868.
Em 1836 casa-se com a cantora Christine Planner, conhecida como “Minna” e em 1842 estabelece-se em Dresden na Alemanha. Nesse cargo, Wagner começou a colocar em prática suas ideias estéticas e musicais, o que pouco a pouco enfureceu as autoridades musicais do principado. Além disso, Wagner estava ligado a grupos anarquistas, o que contribuía para que ele fosse pouco querido pela nobreza local. A gota de água foi a Revolução de 1848, à qual o músico esteve directamente ligado. Dessa ligação e das suas relações com os rebeldes resultaram num exílio de doze anos. Apaixonou-se por Mathild Wesendonck, mulher de Otto Wesendonk, na casa de quem vivia quando esteve exilado na Suíça. Já tinha terminado o enlace com Minna, mas esta não lhe dava tréguas. Em 1859 foi novamente para Paris, onde ficou até 1862. Uma excursão pela Rússia garantiu-lhe meios de sobreviver, mas a situação continuava crítica.
Uma operação teatral bem ao gosto de Wagner viria reverter toda essa situação, uma vez que ele defende o drama como uma forma de produzir arte, quando afirma o desejo da obra de arte ser hábil no plano óptico e acústico. Por outro lado ele acha que a música, os padrões sonoros, os adereços, a pintura, a arquitectura, a poesia e outras manifestações artísticas são partes integrantes da panóplia artística e contribuem para o fim das divisões sociais.
Por outro lado através do visionamento dos bastidores do espectáculo musical ao vivo, verifica-se alguma preocupação entre as relações artísticas e a relação palco/assistência, tal como Wagner pretendia fazer entre o que ele considerava o edifício e o espaço destinado ao espectador. Assim pretende-se que o espectador faça parte integrante da representação, que neste caso não é dramática mas musical.
Assim pode considerar-se esta interacção como o projecto de o já citado compositor alemão defendia no seu utópico projecto ao afirmar que a divisão das artes é a negação da própria arte.
No concerto alvo de análise, procurou-se além da interacção dos artistas versus público, obter uma nova e bela sonoridade através da fusão de sons de alguns instrumentos, para que a paleta tímbrica, nos concedesse uma nova concepção de arte, tal como a teoria de Wagner preconizava. Efectivamente, temos matéria suficiente para se poder afirmar que no espectáculo realizado, conseguiu-se obter uma eficaz dinâmica entre o público e as obras executadas.
Por fim é sugerido que vejamos dois pequenos vídeos (este e este) de forma a termos uma melhor noção da mediação dos órgãos, que movem como os sentimentos e sentidos se manifestam no mundo actual.
Francisco Manuel Relva Pereira