A publicidade como a conhecemos surge a partir da necessidade de se aumentar o público de um produto. Mas como é que a dialética da publicidade e da arte se cruzam?

Na publicidade de tecnologia, são três os argumentos principais e transversais a todos os produtos: (1) o produto tem capacidade tecnológica superior aos existentes no mercado; (2) o produto tem design superior; (3) o produto proporciona uma experiência de uso melhorada.

Cada um dos argumentos tem implicações ao público-alvo ou consumidor. No caso dos equipamentos que reproduzem imagens e/ou áudio, o argumento técnico é implícito pois, a nível argumentativo, a experiência tem maior valor que a qualidade técnica. Este argumento se baseia no fato de a publicidade ser direcionada às grandes massas, com diferentes graus de literacia.

O argumento técnico tem de ser travestido em outro mais atraente ao público. Ora, dizer que a música soa mais realística em CD tem um excelente valor argumentativo, pois é do interesse do usuário conhecer a interface de interação com o meio, no caso, a qualidade do som. Os gurus da tecnologia podem ter interesse no tipo de processador de um computador, mas o usuário médio, cujo conhecimento de uso é básico ou intermédio, terá mais interesse em saber se consegue mandar emails e acessar as suas redes sociais, ou ainda usufruir de alguns jogos.

Exemplos há inúmeros, tal como as propagandas minimalistas em que se usam imagens ‘Shot on iPhone’. O próprio meio, que é o produto publicitado, se torna elemento secundário, aparecendo apenas no mote da campanha. Já o argumento se repete: a fotografia captada por um iPhone é de tão boa qualidade que pode ser usada como peça publicitária.

É neste momento que arte e publicidade confluem. Se no Renascimento o realismo das imagens era o objetivo a se atingir, hoje é este o argumento utilizado para implicar que a qualidade das imagens é superior. Também por esta digitalização e automação da produção artística, quando do surgimento das primeiras câmeras fotográficas, mas não somente, a arte se distanciou cada vez mais do realismo e partiu à abstração. Mas isto é pano para outras mangas.

Gabriel Rezende