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Por muitos séculos o “cânone” da arte assentou numa representação fiel da realidade e, por isso, a pintura era essencialmente mimética, sendo esta a premissa que se tornou na base estética e de virtuosismo técnico para as diversas disciplinas artísticas. É no decorrer do século XX que este princípio vai sendo cada vez mais questionado, o que culminou num ponto de viragem de uma arte figurativa, mimética, para uma arte que se pensa a si própria, com foco nos seus próprios mecanismos artísticos, surgindo uma pintura que dá primazia à sua componente formal, ao que é estritamente pictórico, afastando-se do seu referente e abrindo caminho para uma arte abstrata.

O surgimento da fotografia, que remonta ao século XIX, nasce sobre estes princípios anteriores da pintura. Contudo a fotografia (apesar de também se debruçar por trabalhos experimentais e abstratos) mantém esta aparência de realidade, esta “retórica da imitação”, criando através do avanço das tecnologias e da maior resolução, uma imagem ilusória que coloca em causa esta fronteira entre a imagem física e irreal – ideia sustentada com base no anúncio da Samsung denominado “Finding the Perfect Reality”. Desde logo reparemos no título que remete para esta ideia de uma realidade perfeita, havendo uma vontade de ser o mais próximo do referente, porém a mesma imagem é filtrada e manipulada, pois resulta de um processo de mediação e, portanto, deparamo-nos com uma certa contradição.

Neste anúncio notamos ainda uma forte conexão entre a pintura e a fotografia, de maneira a mostrar a maior resolução da mesma imagem que aparece primeiramente pintada numa tela e depois em vídeo, havendo esta vontade de reproduzir através dos meios tecnológicos a realidade, de forma mais fiável e eficaz do que acontecia na pintura. Porém deve tomar-se consciência de que se trata de uma imagem ilusória e que, por muito evoluída que seja a tecnologia, é sempre uma imagem oriunda de um meio convencional, tal como já acontecia com a pintura – pois a arte necessita irremediavelmente de elementos materiais que possam reproduzir determinadas imagens. Um exemplo ilustrativo deste pensamento é a obra de Magritte “Ceci n’est pas une pipe”, pois demonstra esta ideia de que a arte é sempre um meio de representação e não a realidade física.

René Magritte, Ceci n’est pas une pipe, 1928-1929