E se o já quase obsoleto sistema de correio fosse de repente invadido, não por encomendas e cartas meramente burocráticas, mas por pequenas peças de arte? Nos Estados Unidos da década de 1970 isto de facto aconteceu. Influenciados por movimentos artísticos como o dadaísmo e o Fluxus, vários artistas aderiram ao movimento Mail Art, em português Arte Postal. Entre estes, o nome mais relevante é, possivelmente, o de Ray Johnson, que em meados dos anos 50 iniciou a prática de deliberadamente enviar arte a amigos e colegas tomando como meio a própria correspondência. Foi capaz de expandir o movimento quando em 1958 começou a deixar instruções específicas aos seus remetentes sobre a quem deveriam enviar o próximo objeto de arte, escrevendo “Please send to…”. Este movimento artístico, apesar de ser mais obscuro devido ao seu cariz privado, anteviu várias figuras relevantes da Pop Art, nomeadamente Andy Warhol.

Frequentemente escrito de forma incorreta, o grupo The New York Correspondance School era, acima de tudo, uma de rejeição ao snobismo e exclusividade que a arte de galerias exigia. Ao contrário da pintura convencional, a arte postal é mais elusiva quanto aos materiais utilizados, podendo tomar forma de tudo aquilo que é possível enviar por correio. Desde postais, aos próprios selos onde vinham as cartas, passando por pequenos objetos que atendessem à categoria de correspondência, nada estava fora do alcance dos artistas.

Assim, peças de artes não ficavam enclausuradas nas quatro paredes de um museu, mas antes iam parar à porta da casa das pessoas. Era morte da ideia do ícone e da obsessiva perseveração das obras de arte presente na cultura Ocidental. Nas palavras do próprio Ray Johnson: Mail Art is not a square, a rectangle, or a photo, or a book, or a slide. It is a river.

Bibliografia

Ray Johnson Estate. Acedido a 29 de Outubro de 2022, em: https://www.rayjohnsonestate.com/