Etiquetas

, ,

A cópia de uma obra sempre foi possível, é certo. Inicialmente recorrendo a processos de reprodução manual (como a pintura ou a escrita) e mais tarde acrescentando processos de reprodução mecânica ou técnica (como a fotografia), a verdade é que se verificou uma aceleração incrível na forma como a reprodução se tornou possível e como, em particular, a multiplicação de uma mesma imagem acontece.

É neste contexto de grande possibilidade de reprodução técnica, que já se verifica sobremaneira na segunda metade do século XX, que Bruno Amadio, sob o pseudónimo de Giovanni Bragolin, terá pintado a sua coleção de quadros mais famosa, Gypsy Boys. É desta coleção que fará parte um dos quadros possivelmente mais reproduzidos e reconhecidos de sempre e que chegou a figurar em muitas casas, não só portuguesas, mas do mundo nas últimas décadas do século passado (e talvez ainda perdurem por lá aos dias de hoje!). Falamos do quadro vulgarmente conhecido (em Portugal) como O Menino da Lágrima.

Como, quando e porquê se tornou esta obra de uma criança a chorar num objeto da cultura de massas – não raras vezes também parodiado ou imitado, além de reproduzido – não se sabe explicar ao certo, de tal forma que se parece até desconhecer o paradeiro da obra original e os motivos que conduziram à sua criação. Porém, são também estas questões ambíguas relativas ao original e às cópias que tornam esta obra personagem de uma série de mitos urbanos que lhe conferem, não uma aura no sentido em que Walter Benjamin se refere quando fala do original, mas uma aura no sentido mais lato e figurado do termo, a que a envolve em mistério.

No caso d’O Menino da Lágrima a reprodução técnica foi de tal forma massiva que se parece ter perdido até a ideia de uma existência única em determinado momento e contexto históricos e físicos. Parece assim por demais evidente que esta obra atribuída a Giovanni Bragolin é um exemplo extremo das consequências (positivas e/ou negativas) derivadas da possibilidade massificada da reprodução de uma obra, na medida em que quase tudo o que sabemos é em relação às reproduções, desconhecendo bastante sobre o que lhes deu origem.

Escrito por: Nádia Costa