Um dos casos mais conhecidos e polémicos de reproduções artísticas foi uma das muitas obras de Han Van Meegeren. Este foi um pintor e falsificador holandês, que ganhou notoriedade no século XX. Van Meegeren provou o seu talento ao falsificar pinturas de artistas como Frans Hall e Vermeer. Uma das pinturas polémicas de Van Meegeren foi a falsificação da obra “Woman Reading a Letter”, de Vermeer, intitulando-a de “Woman Reading Music”. A sua falsificação foi tão bem conseguida que foi classificada como uma obra do próprio autor. No entanto, a cópia de obras levanta algumas problemáticas, discutidas por Walter Benjamim no seu ensaio A Obra de Arte na Época da sua Possibilidade de Reprodução Técnica (1935) e por John Berger em Ways of Seeing (1972).

            Benjamim define aura como “uma figura singular, composta de elementos espaciais e temporais: a aparição única de uma coisa distante, por mais perto que ela esteja” (1994, p. 170). Seus principais elementos são a autenticidade e a unicidade. A autenticidade é constituída pelo “aqui e agora” da obra de arte (BENJAMIN, 1994, p. 167), ou seja, pela substância da obra, localizada no espaço e no tempo, a partir da qual sua tradição é formada. No entanto, segundo o autor, existe diferença fundamental entre reprodução manual e reprodução mecânica ou técnica. Segundo Pedro Pereira Leite, o ensaio de Walter Benjamim faz referência à aura como uma “figura simbólica, que se projeta no espaço-tempo. Esta forma simbólica corresponde ao valor da obra de arte” (https://globalherit.hypotheses.org/1145).

Por sua vez, Berger considera que o significado da obra, apesar de o seu significado variar de espectador para espectador, e das reproduções de uma obra variarem de pormenores (p. 20), a obra principal “is still in a sense unique” (1972, p.20,). O que Berger sugere é que a sociedade não olha mais para uma imagem e pensa na própria imagem, o que ela diz ou tenta representar, ao invés disso a peça será avaliada quanto à sua raridade e se é ou não um trabalho “original”. Berger distancia-se da “sacralização da obra de arte”, da “aura” da religião, defendida por Benjamim. Para este, a aura está relacionada a autenticidade, ou seja, ela não existe numa reprodução, enquanto Berger defende a democratização da arte e descreve como é suposto alguém sentir-se quando experiencia, pela primeira vez, a visualização de uma obra original, exemplificando com a pintura de Leonardo Da Vinci “Virgin of the Rocks”: “I am in front of it. I can see it. This painting by Leonardo is unlike any other in the world (…) If I look at this painting hard enough, I should somehow be able to feel its authenticity.” No entanto, nem sempre o quadro original é melhor que a sua reprodução, estamos pois, perante, uma religiosidade falsa da experiência do autêntico. Desta forma, considera-se que, apesar deste quadro ser uma cópia, também é digno de estar no museu, pelo valor místico que lhe foi atribuído. Este quadro passou por um processo de autenticação, pois os discursos feitos à volta da obra e do seu valor no mercado fazem parte do processo de autenticação da obra e, consequentemente, o valor místico de quem a possui. A experiência religiosa da obra de arte é uma experiência falsa causada pelo discurso de adoração da Obra de Arte.

Han Van Meegeren- Woman reading music
Veermer- Woman reading a letter