Etiquetas

, , , ,

A medicina está em constante evolução cientifica, não apenas de um ponto de vista físico, químico ou biológico, mas também de um ponto de vista informático.

Em Portugal, por exemplo, essa evolução informática médica começou a verificar-se há cerca de 30 anos com o surgimento dos primeiros softwares que permitiam o registo da informação clínica dos utentes.

Esta mudança de paradigma, que consiste na transcodificação dos registos clínicos escritos à mão, guardados e arquivados em papel, para a coleção de dados clínicos informatizados, guardados em bases de dados crescentemente mais completas e complexas, tem vindo a tornar-se cada vez mais efetiva e obrigatória (quer por imposição legal, quer por necessidades estratégicas, logísticas e/ou de análise).

Porém, cerca de 30 anos depois, estes sistemas informáticos, conhecidos como EHR (Eletronic Health Records), EMR (Eletronic Medical Records) ou HMR (Health and Medical Records), já não servem apenas a simples necessidade de registo de informação dos utentes, guardando-a. Estes sistemas informáticos têm hoje capacidades muito mais avançadas, que vão desde o recurso à inteligência artificial na interpretação de textos clínicos ditados ou redigidos pelos médicos e enfermeiros, às previsões e aos alertas dos possíveis estados de saúde dos utentes, sem esquecer, ainda, as suas capacidades de contabilização estatística e de centralização (tudo acessível a todos e em simultâneo).

A mudança do papel e da caneta para as teclas e o interface de um computador são hoje incontornáveis no mundo da medicina. A mudança cultural neste contexto é por demais evidente – as práticas e os produtos/softwares médicos, como defende Lev Manovich em “Database as Symbolic Form”, passam assim a incorporar a lógica da base de dados e do algoritmo, sem esquecer o interface, não raras vezes costumizado ou costumizável de acordo com as necessidades e/ou preferências de cada utilizador.

Os dados clínicos dos utentes deixaram assim de ter e de ser uma estória linear de alguém para passarem a constituir um conjunto de dados que permite que sobre ele sejam executadas várias operações diferenciadas, num meio (o digital) que, como refere Manovich, está em constante crescimento e mudança.

It is always possible to add a new element to the list – all you have to do is to open a file and add a new line.” (Lev Manovich, “Database as Symbolic Form”)

Escrito por: Nádia Costa