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A arte iniciou-se a serviço de rituais, mágicos ou religiosos, promovendo o culto às suas imagens divinas e superiores, com destaque na sua unicidade e aura. E, ao decorrer dos séculos, a arte mantém uma intocabilidade perante a humanidade.

Durante o Iluminismo a visão que se tem sobre o artista, aquele com o dom natural da arte, é de genialidade, o ser capaz de completar a obra divina e, como diz Paul Klee, tornar as coisas visíveis, não apenas reproduzi-las. E isso apenas demonstra mais ainda a aura que se criou através do anos em volta do conceito de arte.

Entretanto, todas as artes sofreram inegáveis modificações com o avanço da tecnologia e do tempo. Walter Benjamin discute que a aparelhagem ocasionou na perda da aura da arte, mais precisamente na fotografia e no cinema, e ainda põe em debate se ambos realmente podem ser julgados arte.

Ao submeter o trabalho do artista a testes ópticos, impedindo a identificação do público com o personagem ou ator e sim com a aparelhagem, ele insinua que o cinema gera uma atitude que não pode se atribuir valores de culto. Contudo proponho uma visão diferente, talvez a tecnologia tenha retirado a aura mas não impede o culto, apenas o transfere para o artista.

A aparelhagem põe o artista em outra realidade, ele não é mais alguém que está apenas alguns metros à nossa frente, em um palco. Ele se encontra em uma realidade inalcançável, criada pelo cinema. A visão das massas sobre o artista se torna manipulada por ângulos e assessorias, criando uma imagem perfeita, que seria impossível na vida real. E assim o artista não é apenas um gênio, mas um próprio ser superior ao restante da humanidade.

É evidente como os artistas atuais são endeusados, não cometem erros e qualquer interação com eles é quase como uma visita divina. Não faltam exemplos de pessoas extrapolando na sua “admiração” por artistas, tatuagens com seus rostos e nomes, brigas sérias para os defenderem online, ou até casos extremos, como ataques e surtos, tão intensos como o caso do John Lennon, que morreu por causa do “amor” doentio de um fã.

A distância controlada do artista, com a autoridade da perfeição gera um grande culto sobre a sua imagem, não o culto original que se tinha sobre a arte e sua beleza, não o culto crítico que se tem sobre uma obra, ou uma admiração artística que se distancia quase a julgar tudo aquilo mágico. Mas uma versão quase que doentia que se constrói sobre outro ser humano, julgando o superior e inalcançável ao vê-lo através da máquina.

Noticias de fãs agindo de modos extremos por causa de artistas.