De acordo com Jay David Bolter & Richard Grusin, autores da obra “Remediation: Understanding New Media”, existem duas formas de mediação: um primeiro processo chamado de “imediacia”, ou seja, o ato de ocultar (tornar invisível) o meio; e um segundo processo conhecido como “hipermediacia” que, contrário ao primeiro conceito, este tem como definição o ato de destacar o meio, consequentemente tornando-o visível.

Tendo em consideração a publicidade do Facebook, “We’re never lost if we can find each other.”, irei analisar este objeto de marketing atendendo a estes dois conceitos, dando maior foco na noção de “imediacia”.

“We’re never lost if we can find each other.” – o exemplo perfeito da ocultação do meio.

(https://www.youtube.com/watch?v=nWwVFywBCeY&ab_channel=FacebookApp)

“We’re never lost if we can find each other.”, 00:16.

Antes de mais, a publicidade, tem como principal função a de divulgar a rede social como uma plataforma digital (um meio) com a premissa de conseguir estabelecer ligações entre os seus diferentes utilizadores no decorrer de uma pandemia. De facto, o distanciamento obrigatório pode ser sufocante para qualquer ser-humano, que tanto depende de uma vida social para o seu bem-estar psicológico. O anúncio é narrado por uma pessoa que cita um poema melancólico, acompanhado por imagens, também elas angustiantes de se assistirem. Tanto a narradora como as imagens refletem, meramente, a representação da nossa sociedade e do seu estado atual – o sofrimento, a tristeza e a solidão que nos acompanham no dia-a-dia. Contudo, o tom da propaganda muda drasticamente quando nos é introduzida uma mensagem de uma pessoa enviada através do WhatsApp.

“We’re never lost if we can find each other.”, 00:42.

A partir desse momento, a publicidade passa de um tom deprimente para um de esperança – o Facebook destaca a sua capacidade de unir as pessoas e de gerar esperança naqueles corações (ou melhor, utilizadores) que já a tinham perdido e que nunca pensaram a poder recuperar assim tão cedo.

And then we smile at all our friends

O Facebook, através deste reclame, está simplesmente a revelar o que para os seus utilizadores já não é novidade – um culminar de serviços que permite a comunicação entre pessoas independentemente da distância que as separa (a sua fisicalidade deixa de ser uma condicionante), promovendo uma interatividade genuína (mesmo não o sendo).

O Facebook, tais como todas as redes sociais do género, é constituído por um conjunto de algoritmos que detetam através dos comportamentos dos seus usuários os seus interesses, filtrando publicidades e conteúdos personalizados de forma a “agarrar” as pessoas que usufruem do mesmo, contudo, essa realidade é nos ocultada. A interface da rede social mais utilizada no mundo torna-se cada vez mais intuitiva a cada atualização que passa – o próprio processo de navegação in-app (dentro da aplicação) é cada vez mais fluida, tornando-se invisível. As interações que nos parecem humanas de, por exemplo, comentar a nova foto de perfil do nosso melhor amigo, nada é mais do que o resultado de uma notificação que nos avisou da foto recentemente publicada. Essa reação do utilizador demonstra só o poder de controlo do algoritmo.

“We’re never lost if we can find each other.”, 00:48.

Na verdade, é irónico pensar que o Facebook quer tanto unir as pessoas (tal como a publicidade pretende demonstrar) que os seus programadores tentam de tudo para fazer com que os seus usuários passem os seus dias fixados a um ecrã. Será um objetivo de unir as pessoas, ou de lucrar com elas?

Só no final da publicidade é que nos revelam que toda esta apresentação é uma tentativa do Facebook de juntar todo o tipo de pessoas no decorrer da pandemia Covid-19 – o meio é nos finalmente revelado (“hipermediacia”).

There is so much peace to be found in people’s faces