Diz-nos o cânone artístico que a obra de arte comporta uma “aura” que consiste num conjunto de sensações, que apenas o original dessa obra pode provocar.

Há algum tempo que esta questão tem sido posta em causa, destacando-se John Berger, no documentário “Ways of Seeing” e também Walter Benjamin em “A Obra de Arte na Era da reprodutibilidade técnica”. No livro, com o mesmo nome que o documentário de Berger, pode ler-se: “What we make of that painted moment when it is before our eyes depends upon how we have already experienced the meaning of paintings through reproductions”. Esta “aura”, diz-nos Benjamin, perde o sentido quando a fotografia ganha protagonismo e a reprodução de uma obra se massifica, pois esta “aura”, é meramente uma construção cultural, não esquecendo que, aquilo que muitas vezes consideramos um “original”, é fruto de tantos outros esboços anteriores ao “original”, feitos para planear o produto final. Existe ainda uma outra grande questão que é indissociável do mundo artístico, especialmente, do mundo das artes plásticas, o mercado. Não será, decerto, coincidência que as obras que detém este poder, supostamente arrebatador (a “aura”), são as que têm o valor monetário mais elevado. Sendo assim, somos levados, de diversas formas, a pensar que aquelas obras, tem hoje, o mesmo misticismo, a mesma autoridade artística que tinham quando foram feitas. Parte da “aura” que aquelas obras tiveram, efetivamente, tinha que ver com o contexto em que foram executadas, o local para o qual foram pensadas e onde estiveram antes dos museus, é isto que constitui, verdadeiramente, a “aura” da obra, não o facto de ser, ou não, o “original”.

Referências bibliográficas:

  • “Ways of Seeing” de John Berger, 1972 (imagem retirada deste livro);
  • “A obra de arte na era da sua reprodutibilidade técnica” de Walter Benjamin, 1936.