A arte gótica surgiu entre os séculos XII e XIV em França e expandiu-se rapidamente por toda a Europa. No final do século XIII, a arte bizantina alcançou o seu poder expressivo, através do uso inconsciente da perspetiva. No entanto, estava em processo de ser substituída por novas técnicas mais realistas.

O pintor italiano Giotto di Bondone, considerado o explorador da perspetiva na época, foi o primeiro a utilizar a ideia de profundidade. Os frescos eram surpreendentemente realistas. Neles as figuras transmitiam emoção através de gestos e expressões simples, enquanto o pintor guiava o olho do espetador através de histórias pelo uso da perspetiva profunda, fornecida pelo fundo azul-escuro no céu. Ainda assim, as criações de Giotto não eram comparáveis aos sistemas de perspetiva linear, usados nas obras de arte do Renascimento.

 

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Entre meados do século XIV e finais do século XVI, o Renascimento dominou a perspetiva, apresentando nas suas obras os pontos de fuga. A utilização desta característica na pintura modificou totalmente as normas artísticas comuns. Daí em diante, os pintores começaram a utilizar a interseção de duas ou mais linhas, em que todas convergiam ao centro, colocando o olhar na direção do horizonte e tornando a perceção mais semelhante ao olho humano.

Os séculos seguintes ficaram marcados pela aplicação intensiva da perspetiva e consequentemente pela obsessão de tornar as representações pictóricas em realidade. A pintura perdeu o desejo de substituir o mundo exterior com o aparecimento da fotografia, na qual o real se tornou efetivamente autêntico. A partir do surgimento das imagens obtidas por câmaras fotográficas, a pintura substituiu as convenções tradicionais por novas ideologias exploráveis e progressistas. O rompimento do código da perspetiva fez com que se manifestasse uma corrente artística singular, o Modernismo.

O Modernismo surgiu na primeira metade do século XX e causou um grande impacto na pintura. Em Portugal, atingiu as várias artes, contudo na pintura em específico, um dos seus grandes precursores foi Amadeo de Souza-Cardoso. As suas obras estavam intimamente ligadas a movimentos anteriores, nomeadamente ao abstracionismo. Esteticamente, introduziu técnicas inovadoras, particularmente os elementos caligráficos geométricos, assim como a mistura de várias cores e ideia de movimento.

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Amadeo de Souza Cardoso (1907) – “Entrada”.

A obra “Entrada”, por exemplo, foi produzida com tintas a óleo, em 1917. A sua menção é relevante, devido ao fato do uso de vários meios, tais como: diversas tintas, colagem de vidros e fósforos, madeira, entre outros materiais. Nesta obra são visíveis todos os sentidos, a audição (viola), o olfato (flores), o tato (utilização de camadas com várias grossuras e texturas), o paladar (fruta) e por último a visão (notório nas cores vibrantes e nas variadas formas simétricas). É notório que não existe profundidade na pintura e o olhar se dirige para todos os sentidos.

Amadeo, utilizava igualmente outra técnica inovadora e interessante, o “estêncil”. O estêncil é uma prática usada para gravar inscrições em várias superfícies, através de um papel acetato cortado e preenchido com tinta. Todas as obras do autor incluíam a sua assinatura ou várias expressões, que até então não eram aplicadas por outros pintores.

 

A “Entrada” é um exemplo de diferença e transcendência das regras que regiam a arte na época em que Amadeo viveu. Todos os meios manuseados nas suas produções, tornam as obras num meio comunicativo que cada espetador interpreta de forma distinta. O seu papel na arte modernista, pode ser considerado precursor, no avanço da técnica multimédia, uma vez que eram utilizados múltiplos meios na conceção das suas obras.

Bárbara Videira