A histórica marcha sobre Washington D.C. em 1963, liderada pelo ativista revolucionário Martin Luther King, na qual se gritou em protesto por alguns dos temas mais fragmentários da história americana, como pelo fim da segregação e imposição de liberdades individuais oprimidas por séculos, levou cerca de seis meses para ser planificada e organizada na totalidade.

Quase 60 anos depois, na mesma capital, apoiantes de Donald Trump, alavancados por tweets do mesmo na rede social, no qual incentivava a um protesto em massa em Washington contra a sua derrota nas eleições de 2020, resultou num aglomerado de dezenas de milhares de pessoas a 6 de janeiro de 2021 que deliberadamente invadiram o Capitólio, e que facilmente poderiam ter causado uma das maiores tragédias na história recente do país.

Tudo isto, por causa de tweets, num curto espaço de tempo.

A globalização e massificação dos media, incorporando as redes sociais, expandiram o alcance mediático de todo o tipo de informação. Em 1963, foi preciso meio ano, de forma a se reunirem as condições para a luta contra a repressão de dezenas de milhões pessoas. Atualmente, um post é suficiente para inadvertidamente, ou neste caso em específico, deliberadamente mobilizar grupos populacionais de forma extremamente eficaz, especialmente quando é feito por pessoas ou entidades com um engajamento enorme ou em cargos de relevância.

Então, serão as redes sociais um dos principais responsáveis por próximos eventos catastróficos?

Não necessariamente, seria injusto atribuir essa responsabilidade a extremistas com acesso à Internet, mas acima de tudo, seria um desserviço a todos os eventos de ativismo nobres que tem a sua origem no digital e que permitem que o movimento se dissemine.

Porém, não é ao acaso que países cuja população é sujeita a regimes ditatoriais, por exemplo, filtram ou bloqueiam informações relacionadas aos media ou o acesso a redes sociais, pois estas têm o poder de estreitar os interesses da população de tal forma que seja impossível conter uma massiva luta por direitos, por o quão facilmente os meios digitais permitem organizar movimentos de forma eficaz.

Por outro lado, caso estes movimentos sejam guiados por “fake news” ou “malinformations” os resultados podem induzir em eventos que espalhem essa desinformação, em alturas criticas que facilmente podem ter resultados catastróficos, alienados por grupos extremistas ou conservadores, como se verificou em épocas altas da pandemia Covid-19, contra o uso de máscaras e vacinas, que usam a revolta e desespero generalizado da população para servir interesses mal intencionados.

Daí a responsabilidade individual e coletiva de como utilizamos o enormíssimo poder que movimentos criados no digital têm, para que se traduzam em resultados benéficos e nobres na vida real.