O filme “Man with the movie camera”, traduzindo para o português “Um homem com uma câmera” feito em 1929 pelo magnífico cineasta Dziga Vertov, é sinônimo de inovação técnica. Numa espécie de cinema documental e experimental, o filme retrata a União Soviética no seu cotidiano. Vertov no seu jeito único e especial de fazer cinema, sendo um dos cineastas mais inovadores e experimentadores do cinema, muitas vezes foi inspirado pelos ideais da revolução. No filme citado anteriormente, Dziga Vertov experimentou as diversas formas de usar uma câmera, de editar as filmagens usando as maiores tecnologias possíveis para aquela época e rejeitando o cinema que era feito anteriormente. Numa época em que o cinema feito era político, numa forma de propaganda para o Estado, Dziga inovou completamente fazendo um filme sem uma narrativa linear que tivesse início, meio e fim. Mas o que teria a ver o trabalho desse cineasta com o trabalho do pesquisador Lev Manovich?

Lev Manovich, para além de pesquisador, é também crítico de cinema e procura envolver o cinema com os seus trabalhos de pesquisa. Nessa busca da relação entre cinema e a emersão da tecnologia digital, Manovich cita Dziga Vertov como uma linha de compreensão das imagens em movimento e os novos mídia. Na ideia da base de dados desenvolvida por Lev Manovich em “The language of new media”, o exemplo de Vertov é usado precisamente para mostrar que a base de dados não é uma forma de estruturação dos dias atuais. Segundo Manovich, hoje a base de dados é predominantemente a base para a organização do mundo e influencia bastante a maneira como construímos narrativas e experiências.

O filme citado anteriormente é cheio de inovações técnicas pela época em que foi criado quando o cinema ainda passava por mudanças na transição do cinema mudo para o sonoro. Vertov rejeitou uma narrativa linear, fazendo o uso da sobreposição de imagens numa versão de modernidade misturada com futurismo. Dessa forma, Lev Manovich vai usar o autor como exemplo da base de dados comparando o cinema modernista feito por Vertov e os meios digitais criados essencialmente pela base de dados.

Designado como um filme do “cinema de banco de dados”, a história não tem um começo ou um fim. Podemos dizer que banco de dados e narrativa linear seguem caminhos opostos. Assista o filme e verá como funcionou essa relação entre narrativa e base de dados, Manovich e Vertov nessa obra prima do cinema.

Escrito por Letícia Boaventura