A revolução industrial como a conhecemos provocou a existência de uma cultura que tinha como elemento central a reprodução em massa de produtos padronizados. A reprodutividade técnica foi um fator que desta adveio e que, no mesmo sentido, conseguiu proporcionar uma produção massificada a nível técnico e mecânico, nunca antes realizada a partir da produção manual. A arte relaciona-se com este conceito, na medida que foi a partir destas inovações técnicas que se mostrou possível a sua reprodução. Walter Benjamin, na sua obra The Work of Art in the Age of Mechanical Reproduction, debruça-se sobre este assunto expressando a sua visão sobre o limiar entre a reprodutividade e a autenticidade ou, como nomeia, a aura da obra de arte.

A aura, segundo Walter Benjamin, são todas as qualidades de uma obra artística ligadas à sua autenticidade e autoria. Assim, podemos perceber que ao ser reproduzida, a obra de arte sofre uma perda da sua aura, visto que deixa de existir a sua essência histórica inicial. Esta ausência de aura remete-nos para a massificação social existente, que altera a forma como a obra de arte é vista socialmente. Desta forma, também como consequência da revolução industrial, a aura da obra de arte associou-se à moda, mais especificamente, à alta costura.

A alta-costura, apesar de ter tido o seu início e invenção literal no século XIX, estendeu o seu caminho desde as luxuosas vestimentas da classe superior do século XIV na Europa, onde reis e rainhas demonstravam a sua riqueza a partir dos trabalhos artesanais feitos à mão. No entanto, e como já mencionado, foi a partir de meados do século XIX, com Charles Frederick Worth, designer de moda inglês que foi possível observar os primeiros passos da alta-costura como hoje a conhecemos. Este começou a etiquetar as suas peças para que estas pudessem ser distinguidas através do seu nome bordado nelas. Com esta inovação, que demonstrava a originalidade e autenticidade da roupa, o conceito de aura associou-se à moda, devido à alta-costura, que é representada através de peças com características associáveis às de um objeto artístico. O objetivo de Charles Frederick Worth com a promoção da alta-costura seria que a produção manual artesanal fosse salvaguardada e tradição das marcas luxo se mantivesse intrínseca em muitas cidades de renome, como Paris.

Charles Frederick Worth

A aura persistente na moda da alta-costura oferecida através de uma etiqueta, sendo que se consegue diferenciar o original e autêntico daquilo que é copiado ou falsificado. Assim, apesar da reprodutividade técnica se apresentar como uma característica intrínseca de sociedade industrial e de consumo, em que peças de roupa de marcas de luxo são usadas como inspiração ou mesmo modelos para imitações ou falsificações, existe uma forma de distinguir o quão rara, única e especial uma peça é, tal como acontece com as obras de arte. Apesar da pouca diferença entre a cópia e o original, a distinção é feita através da diferenciação de aplicação das peças entre classes sociais.

Escrito por: Diana Silva

Fontes:  

https://ubibliorum.ubi.pt/bitstream/10400.6/9343/1/6355_13751.pdf

https://www.e-publicacoes.uerj.br/ojs/index.php/contemporanea/article/download/7637/6333