Ao que diz respeito a teoria musical, Schoenberg executou com excelência a sua forma e por isso foi capaz de construir um pensamento que fugisse de toda teoria determinada previamente. Se formos a raiz do significado literal da palavra vanguarda encontraremos isto: Linha de frente; o que se localiza à frente de; aquilo que inicia uma sequência.[1] Se formos pensar de maneira mais filosófica sobre o assunto, iremos nos deparar com a desconstrução de algum pensamento, ou de um ‘fazer’ artístico. Claramente, só podemos reconectar com este termo desta forma, porque para descontruir algum elemento, este tivera que ser construído no passado. É nisso que reside o pensamento de Schoenberg, digo, pensamento porque ele foi o criador do dodecafonismo, ou como preferirem, música atonal.

Este sistema se baseia na intercalação das doze notas dentro da escala atonal, e a música possui execução organizacional mais livre do que as músicas provenientes de escalas tonais, cuja organização se baseia em 7 notas com intervalos específicos entre elas, se articulando entre si de maneira a criar concordâncias e consonâncias que são convencionais aos nossos ouvidos.

As notas da escala atonal são organizadas de acordo com a vontade do compositor, a variação pode ser feita livremente, em velocidade, timbre ou ritmo, contudo, não pode haver a repetição de nota enquanto toda a sequência escolhida não passar por todas as doze notas da escala. É válido ressaltar, que essas musicas atonais quando ouvidas pela primeira vez, não são um mar de rosas, e mais parecem com algo muito intangível aos ouvidos humanos, julgo dizer que algumas pessoas podem achar que se trata de algo “insuportável”.

Ainda assim, é válido ressaltar a relação da música com a linguagem ou com a poesia, por exemplo. Podemos conectar estes conceitos quando pensamos que a poesia é feita por um conjunto de palavras que combinam entre si e se fazem concordantes, que se encaixam, de maneira a dizer mais ou menos coisas, de acordo com o objetivo do poeta. Com a música, é quase precisamente a mesma coisa. Tanto na música tonal quanto na atonal o compositor escolhe mais ou menos coisas que são pertinentes em suas músicas, quais sons, ritmos, intervalos, notas, etc. De certa maneira, poderíamos dizer que esses elementos musicais são quase equivalentes as palavras? É interessante pensar nisto e ainda ressaltar que, mesmo que os significados das palavras sejam mais palpáveis e tangíveis, poder-se -a dizer que para todo o leitor elas terão o mesmo significado? Arrisco dizer que não. As palavras podem ser também tão intangíveis quanto a música, se assim pensarmos. Ainda acrescento: a atribuição de significado na música será sempre relativa.  

Se compararmos uma musica tonal com uma música atonal, podemos dizer que a segunda foi feita sem nenhuma lógica de concepção e que de facto ela não possuí nenhum objetivo de significar. Mas, olhemos para o contexto histórico do compositor: Arnold Schoenberg era judeu, nascido na Áustria e esteve presente na ascensão do nazismo. Se ouvirmos sua música com essa informação, nossa visão já muda completamente, e entendemos um pouco do “caos” que ali se passa.

A música atonal pode não ser esteticamente agradável aos nossos ouvidos, entretanto seu raciocínio é extremamente articulado, com uma relação matemática significante, explorando também a expressividade do compositor em seu contexto histórico.


[1] https://www.dicio.com.br/vanguarda/

FUBINI, Enrico. Estética da Música. Lisboa: Edições 70, 2015