Era eu ainda uma criança, e as novas tecnologias já me despertavam algum tipo de interesse. Efetivamente, ambicionava por uma experiência interativa através do meu telemóvel, quase como uma conversa, só que com um “ecrã”. Jogos como o “Pou”, ou o “My Talking Tom”, foram jogos que marcaram a minha infância pela forma como eu tinha de interagir e cuidar destes objetos digitais. Naturalmente, senti a necessidade de explorar mais sobre uma aplicação semelhante às anteriormente referidas – “Fred :-)”, de Serge Bouchardon.

“Fred :-)” é nada mais que uma tentativa de criar um “amigo virtual”, dando uso às várias características de um telemóvel que possibilitam diferentes tipos de interações. Logo no início, por exemplo, “Fred :-)” pede ao utilizador para que o próprio sorri; cabe à pessoa decidir se realmente quer fazer o que “Fred :-)” lhe pede, ou se o contraria, de qualquer das formas, este tipo de interação não seria possível sem a câmara frontal dos demais smartphones disponíveis no mercado.

Esta obra digital revela perfeitamente como a base de dados e o algoritmo se uniram para formar esta experiência digital: graças à base de dados, a aplicação consegue identificar um sorriso na cara de uma pessoa, e o algoritmo procede para concretizar uma tarefa simples que só o smartphone e a sua capacidade computacional poderá executar. De facto, as diferentes escolhas dadas pela aplicação, proporcionam uma relação única entre o utilizador e o objeto digital, estabelecendo, de igual forma, uma narrativa.

Também é interessante pensar nas capacidades dadas ao meio digital, por Janet Murray. Nesta aplicação, a capacidade processual e participatória (do espaço digital) são nos constantemente visíveis pela forma como uma escolha feita pelo utilizador tem uma relação causa-efeito.

Outra característica desta obra digital é a de uma automação de “nível baixo” (princípio esse facultado aos meios digitais por Lev Manovich), pela forma como a narrativa foi pré-estabelecida, isto é, nada que o “Fred :-)” faz é uma amostra de inteligência artificial, na verdade, tudo foi programado e pré-definido – nada é espontâneo.

Por fim, o que inicialmente se apresentou como uma obra de arte interessante, contudo, limitada (pelas formas cliché que usou as características dos smartphones), transformou-se, em uma segunda interpretação, numa obra eficaz a fazer aquilo que, de facto, se propõe a fazer: destacar as possibilidades e limitações dos nossos smartphones e questionar a relação que cada nós temos com estes dispositivos eletrónicos. Para além disso, é de louvar a forma como nos é demonstrada a quantidade de dados que o telemóvel pode reunir, e aos quais tem acesso