A arte tem vindo a ser alterada e adaptada ao mundo digital, e a música não é exceção. No ano de 2008, o sueco Daniel Ek lançou uma plataforma musical que viria a mudar a indústria da música e a forma como esta é consumida: o Spotify. Criada após a má reputação da Napster ter culminado com o seu fim, a criação de Ek tinha como principal foco melhorar a experiência do consumo da música tanto para os artistas como para os consumidores.

Aquilo que essencialmente contribuiu para o contínuo sucesso da aplicação até aos dias de hoje, é o facto desta se aludir ao seu usuário, isto é, de ter um cariz de personalização. Playlists como a semanal Discover Weekly, ou até mesmo a anual Your Top Songs, que reúne as músicas que mais ouvimos ao longo do ano, difundiram o uso das playlists e o abandono do álbum. Esta segunda compilação, por exemplo, altera completamente a dinâmica daquilo que é, de facto, ouvir música, pois reduz a experiência a números frios que não têm em consideração a apreciação do ouvinte.

Desde compilações que tenham como ponto comum um género musical, ou até mesmo uma série de músicas compostas pelo mesmo artista, as playlists são um fator atrativo da plataforma, pois para além de customizar por completo a experiência do ouvinte, que ouve unicamente aquilo que selecionou, são ainda uma forma do usuário, de certa forma, interagir com músicas e álbuns. Ao tirar as músicas do seu ‘habitat natural’ (o álbum) e emparelhando-as com outras faixas, o usuário cria uma infinidade de resultados. Aliás, a própria plataforma participa nesta febre musical; o Spotify tem, atualmente, um grande catálogo de playlists com títulos que propõem vários propósitos. Nomes como Workout Playlist ou Chill Out Playlist são compilações que resultam de uma categorização das músicas e que matam o conceito de “art for art’s sake”, uma vez que conferem à música um cariz funcional. A música deixa de ser ouvida em função de si mesma, e passa a ser consumida segundo um fim, ficando como barulho de fundo para uma ação. E no final, não é só ouvinte que fica mudado, a criação da música também ela já não é a mesma, uma vez que cada vez mais se vê a adesão ao single ao invés da criação de projetos musicais que funcionem como um todo.