O mundo chega-nos de várias formas, porém, o mundo que nos chega através da mediação técnica, cujo meio tem quase como fim último a sua invisibilidade, tem vindo a ter um papel cada vez mais substancial nas nossas vidas, ainda que por vezes de forma paradoxal.

Tenhamos como exemplo a campanha de Natal lançada em 2019 pela operadora Vodafone.

Esta campanha conta-nos a história de dois irmãos desavindos que nem a época natalícia consegue juntar. Contudo, a oferta similar que ambos fazem à mãe – um smartphone de última geração – será capaz de quebrar barreiras e trazer de volta o contacto entre os dois irmãos.

Parece que estamos aqui perante um meio – o smartphone – que, sendo capaz de remediar a presença e o contacto físico (vejamos o que a mãe faz com os aparelhos para que os filhos voltem a ver-se), permite também uma clareza e uma proximidade de contacto semelhantes aos conseguidos presencialmente, sem barreiras, sem mediador físico, sem smartphone, embora este último apareça claramente como um facilitador do contacto. Nesta campanha o meio é evidentemente mostrado, mas a sua existência parece ser omissa, quase ou totalmente inexistente para quem dele faz uso.

Estaremos assim perante o paradoxo imediacia-hipermediacia proposto por Jay David Bolter e Richard Grusin em “Remediation, Understanding New Media”?  Tudo leva a crer que sim. No anuncio, a existência do meio – o smartphone – tem como fim a ideia da sua inexistência, quer pelas suas capacidades de conexão com os demais, quer pelas suas qualidades técnicas que, de tão boas, são capazes de remediar até a presença física do outro.

A Vodafone parece corroborar assim a teoria da naturalização do meio!

Escrito por: Nádia Costa