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Não é de hoje que a arte fonográfica desenvolve-se segundo a ‘lógica da base de dados’ – para Lev Manovich, sua organização em lista favorece o valor não-narrativo característico da base de dados. No entanto, foi durante os últimos anos que a indústria musical aproveitou-se da modularidade tornada popular pela internet e trouxe aspectos multimédia em um processo que antes se resumia quase somente ao meio sonoro. Um dos pioneiros disso, a indústria musical coreana.  

No k-pop, a música é apenas um dos meios (mesmo que talvez o principal) a que os fãs são convidados a interagir com. Antes mesmo de serem oficialmente ‘lançados’ para o mercado musical, os grupos de k-pop participam frequentemente de lives e tem parte de seu cotidiano gravados e divulgados para o público – permitindo que este se aproxime dos membros. 

Showcase de estreia do grupo Seventeen, apresentado no último episódio de “Seventeen Project”

Dois anos antes de seu lançamento oficial, o grupo Seventeen, por exemplo, disponibilizou o programa 17TV, gravado em sua sala de ensaios, para streaming. Um mês antes de seu debut musical, estrelaram no reality-show Seventeen Project: Big Debut Plan – o reality encerrou com o showcase de estreia do grupo. Mesmo depois do lançamento, o grupo continua com vídeos semanais independentes de seus projetos musicais, que alimentam a curiosidade e o apego dos fãs com o grupo. 

O universo musical ocidental tem tentado acompanhar estas novas narrativas. A cantora Taylor Swift, por exemplo, trouxe quatro versões deluxe de seu álbum Lover com entradas do diário que mantém desde o início de sua carreira, de maneira a explicar as histórias contadas no álbum e a atrair mais vendas. A cantora Lorde anunciou recentemente o lançamento de um livro fotográfico como precursor “abstrato” de seu próximo álbum.

A cantora Taylor Swift promove as versões deluxe de ‘Lover’, cadernos com entradas de seu diário.

A indústria musical observou com a internet a necessidade de somar à música diferentes elementos, de modo a atrair um público ébrio por mais contexto e conteúdo que o aproxime do ídolo. Desta maneira, como visto com a decisão arrojada de Swift de trazer seu diário a público ou a de membros do k-pop de terem seu cotidiano acessado por desconhecidos, a própria realidade do artista se torna mais um dado a ser associado a sua música.