Não é de hoje que a arte é uma arma que tem como alvo, criticas sociais. Em momentos em que a sociedade e os seus valores entram em declínio ou chocam entre si, a expressão artística trata de estar à altura de representar o quão fraturante são esses choques.

Com a eclosão da Primeira Guerra Mundial, o mundo entra num choque de valores. Se estamos dispostos a nos assassinarmos em prol de uma “causa maior”, o que é que neste mundo faz sentido?

Há cerca de 100 anos, o Dadaísmo tratava de ser uma das expressões artísticas que melhor refletissem a imbecilidade da Guerra, ao criar uma expressão que espelhasse uma total ausência de valores e ideais, chegando até ao ponto de obrigar a um autoquestionamento, do que é que é arte na verdade.

Desde objetos banais como urinóis a serem vangloriados como expoentes de beleza estética, em esculturas como “Fonte” de Marcel Duchamp, até a Mona Lisa desprovida de qualquer estética considerada bela na época que Da Vinci a concebeu.

L.H.O.O.Q., Duchamp

Desde a pintura, à escultura que se transformou objetos sem aparente valor estético em obras primas.

A arte definiu as suas armas pelo meio que podia, e tal como era a sua ambição, destabilizou todas as nossas concessões anteriores tanto sobre os objetos como sobre o próprio cerne da obra artística.

Claro, que hoje em dia a arte “fisica” como desde a pintura ou esculturas, até graffitis servem um trabalho nobre de expressão sobre problemas fraturantes da sociedade, como um grito ensurdecedor que é mudo

100 anos depois, essa expressão artística é metamorfizada e reproduzida para o digital, em diversas outras formas. Esta talvez tenha sida a transição secular mais transformadora de sempre. A gradual globalização permitida em grande parte por avanços tecnológicos, dissemina a informação e aumenta drasticamente a sua escala e repercussão facilmente, especialmente no que toca a causas sociais.

A arte audiovisual através do cinema, teatro, ou da musica, como um exemplo um tanto quanto vago no meio de tantos outros, mas indiscutivelmente imprescindível para totalidade da expressão artística, do videoclipe da música de Kendrick Lamar, “Alright”, considerado um hino do movimento ‘Black Lives Matter’, que até aos dias de hoje ainda é extremamente relevante, acompanhado por fevrosas criticas ao sistema americano, inclusive no que diz respeito à policia, já conta com mais de 150 milhões de visualizações no Youtube, o que dá a entender que a mensagem correu meio mundo e continua a ser uma arma crucial para apoiar causas sociais.

Tanto exemplos individuais no meio de uma multitude que constituem revoluções sociais, como o Dadaísmo como o videoclipe de “Alright” dão azo e impulso e alguns dos movimentos que colocam em causa toda a nossa perspetiva da sociedade, desde o físico ao digital, da pintura ao audiovisual, a arte adapta-se as evoluções sociais para impor as suas criticas sociais e ser um dos principais catalisadores, não só de uma mudança de mentalidades como de um paradigma de uma sociedade e cultura inteira.

Imagem do videoclip de ‘Alright’ de Kendrick Lamar, 2015

Uma das mais importantes tarefas da arte foi desde sempre a de gerar uma procura cuja total satisfação ainda não se realizou” – Walter Benjamin