Se refletirmos sobre a frase “O meio é a mensagem” de Marshal McLuhan, vamos concluir que o meio em que a mensagem é passada, pode ser mais importante do que a mensagem em si. Quando recebemos algum conteúdo pela televisão, ele será diferente do que receber o mesmo conteúdo via rádio, por exemplo. Com o conceito de McLuhan percebemos que a tecnologia muda a maneira em como a sociedade recebe e interpreta as mensagens.

Dito isso, ponho em questão. Se recebermos um mesmo conteúdo individualmente por um meio X, ele será interpretado da mesma maneira sendo recebido em conjunto com outras pessoas? Neste caso, volto a pensar na era pandêmica que ocorreu nos últimos 2 anos. Tivemos diversas modificações na maneira de transmitir a arte, e de, mais uma vez, recebê-las.

Por exemplo, o espetáculo Coleção de Amantes de Raquel André, teve algumas sessões online. O conteúdo deste espetáculo é de bastante proximidade com o público, entretanto, torna-se ainda mais intimo quando visto de casa, principalmente se estivermos sozinhos, diferentemente se visto em um teatro com outras centenas de pessoas. Coleção de Amantes é sobre alguns encontros ficcionais da atriz Raquel André com outras pessoas desconhecidas, para fazer/ falar sobre coisas aleatórias ou especificas. O conteúdo do encontro não é predeterminado. Ao decorrer do espetáculo, sentimos a ambiguidade da realidade. Será que ela fez realmente tudo que diz ter feito com cada pessoa? Ou será que ela estava a interpretar uma personagem que tivera feito todos esses encontros? No final do espetáculo, há uma série de áudios, que retratam diálogos retirados de alguns filmes, não são dela particularmente, contudo, faz parecer que são. Por estarmos tão imersos a intimidade do conteúdo e da proximidade que construímos com a atriz, residimos na dúvida.

O ponto importante é perceber qual o tamanho do impacto íntimo e pessoal que este espetáculo pode ter em cada pessoa. Ao assistir sozinhos, online, podemos sentir que a atriz está muito mais próxima de nós do que se tivéssemos assistindo dentro de um teatro. Isso faz com que a mensagem seja mais intima e penetre mais intensamente no nosso consciente.

Bibliografia:

McLuhan M., 1967, O Meio é a Mensagem