Através de uma visita virtual à exposição de arte e literatura digital (un)continuity ELO 2020: a virtual exhibition, tomei conhecimento de uma obra de arte virtual, que se baseia na interatividade: fred 🙂, de Serge Bouchardon. Esta obra é descrita como uma narrativa interativa de multimédia para smartphones, que pretende a criação de uma relação entre utilizador e o próprio smartphone, representado por uma personagem ficcional nomeada fred :-). Este apresenta-se como um ser com capacidades sensoriais e emocionais que é representado no ecrã através de uns olhos desenhados e uma voz programada, que se expressam de acordo com o que está a sentir.

Ao iniciar a experiência, a primeira interação é feita através de um clique no ecrã, para que esta possa começar. No seu decorrer, são feitas várias interações com o telemóvel como o ajuste de som, toques para afastar a imagem, toques para aproximá-la, agitar o dispositivo, pô-lo no bolso, entre muitos outros. Esta é uma forma de, enquanto o dispositivo comunica com o utilizador, o utilizador comunica com ele também e, juntos, constroem uma narrativa e exploraram as suas capacidades relacionais.

A interatividade é o ponto fundamental desta obra. É aquilo que nos faz entender toda a narrativa e a sua profundidade. Assim, segundo Janet Murray, esta propriedade é gerada através da combinação de duas capacidades dos média digitais: a processual, que permite ao dispositivo representar e executar instruções dadas pelo utilizador e a participatória que, por outro lado, gera a possibilidade deste controlar (ou ter a sensação de controle) sobre os dispositivos e as suas propriedades. No entanto, esta interatividade é também limitada pelo software do artefacto digital, que controla o modo como a funciona a experiência. A narrativa é apenas contruída com as opções que nos são dadas de interação, ou seja, que já fazem parte das capacidades técnicas do dispositivo.

Ao analisar a obra e tendo em conta os cinco princípios dos meios digitais de Lev Manovich, é percetível a presença destes pilares no exemplo analisado. De todos, o principio da automação e o da variabilidade são os mais representativos das características desta obra. O 3º princípio (automação) reflete-se na capacidade de processamento automático da obra, sendo que uma das partes mais importantes desta é o sistema automático de voz que comunica com o utilizador. Esta é, assim, considerada uma automação de “nível baixo”, visto que parte de funções pré-definidas do seu sistema. Para além disso, o 4º princípio (variabilidade), derivado da combinação dos princípios da representação numérica e da modularidade estrutural, retrata a possibilidade de inúmeras versões de interações, em idiomas diferentes, formulações de narrativas diferentes, vozes diferentes, entre outros aspetos que são gerados automaticamente de forma a fazer surgir experiências diferentes para cada utilizador.

Para além de uma obra de arte digital, fred 🙂 é também uma experiência hipermediatica, que nos oferece uma reflexão sobre como as nossas interações diárias com um telemóvel e os seus sensores, podem ser representadas através de uma história na qual apenas o dispositivo e o utilizador são as únicas e principais personagens.

Escrito por: Diana Silva