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A literatura, principalmente a ficcional, sempre teve como intuito imergir o leitor, criar um universo capaz de prendê-lo na obra, ou explicitar um conhecimento. E ao tratar de literatura eletrónica, que se consiste em obras e materiais desenvolvidos especificamente para o meio digital, os poderes de imersão são ainda mais destacados.

Esta média, por ter capacidades multimédia, tira proveito disso para criar um ambiente de maior interação, e logo imergência, do usuário. E essa interação pode copiar a realidade ou até partir de um conceito único onde a compreensão linear é posta de lado para se aprofundar nas palavras do texto.

Entretanto um modo de literatura digital de grande sucesso é a de “livros participativos”, onde o usuário é quem decide o rumo da história e o desenvolvimento da personagem principal. Esses livros ganharam bastante fama devido a capacidade do leitor de viver através da personagem, não apenas imergir em seus pensamentos.

Um aplicativo capaz de evidenciar esse modo de leitura eletrónica é o “Episode – Choose Your Story”, onde o usuário é exposto a diversos livros com temáticas distintas e ele pode escolher todo o desenrolar da trama. A app teve bastante êxito com o publico mais jovem exatamente por tornar essa interação possível, pois é inegável o desejo dessa geração de participar diretamente com a literatura, como é o exemplo as “fanfics” e trabalhos literários completamente independentes do “Wattpad” com o único intuito de tornar a possibilidade de escrita aberta a todos.

Esse fator de quebra da hierarquia autor-leitor já havia sido levantado por Walter Benjamin em seus estudos da reprodução da obra de arte. Além disso, essa literatura é capaz de levantar outros diversos tópicos, como o conceito de obra e de autor, com a composição conjunta da história. Apesar de que já foi desenvolvido antecipadamente por programador e escrita na totalidade de seus caminhos.

Essa falsa liberdade de escolha é muito importante de ser discutida dentro das novas medias, pois estas estão a passar a sensação de poder sobre as decisões, mas na verdade já é tudo programado, não apenas a resposta do computador, mas todo o comportamento do usuário é categorizado por um algoritmo e previsto. Assim é importante apontar como a literatura eletrónica evidencia ainda mais essa “farsa”, que tem raízes profundas no mundo digital e é trabalhada em vários estudos do comportamento do público. Ele não apenas se deixa ser manipulado, mas gosta dessa manipulação, vê liberdade em um mundo extremamente delimitado e controlado.