Em 2019, a “Sinfonia inacabada de Schubert foi “acabada” por um software de inteligência artificial da Huawei com a ajuda do compositor Lucas Cantor.

            Podemos dizer que esta sinfonia está realmente acabada? O trabalho de um software como este pode substituir o de uma pessoa? São questões como estas que esta situação levanta. Este software foi munido de uma série de informações importantes para completar o que faltava da sinfonia de Schubert, como, progressões harmónicas, melodias, tipos de contraponto, etc. que Schubert tinha incluído tanto na sinfonia em questão como noutras. Mesmo assim, seria difícil, a meu ver, dar credibilidade a esta proposta de acabamento desta obra. Seria ainda mais difícil, dizermos que se trata de “fazer arte”.

Pode o algoritmo usado por um programa, por mais avançado que seja, ser posto no mesmo patamar, ou até substituir (sem lacunas) a intervenção e criatividade humana? Dificilmente. Como diz Lev Manovich em “What Is New Media”: “Digitization inevitably involves loss of information. In contrast to an analog representation, a digitally encoded representation contains a fixed amount of information”. Esta citação, é usada num contexto e em relação a uma situação diferentes da que estamos a analisar, contudo, acho que demonstra bem as limitações da digitalização completa da criação artística. Como referi anteriormente, a criatividade humana, que também depende da experiência, da educação, de uma serie de outro processos cognitivos, que moldam o indivíduo e a sua forma de operar, não podem ser substituídos. Esta questão vai, ainda, de encontro a um dos princípios do meio digital de Manovich, o da automação. Tendo em conta tudo isto, a intervenção humana pode ser substituída, até certo ponto, mas nunca totalmente.

            Numa breve nota final, o progresso digital tem trazido muita variedade e possibilidades ao mundo artístico, mas sem a intervenção humana, a arte perde um aparte basilar de si mesma.

Bibliografia:

  • “What I New Media” de Lev Manovich;