O conceito de imediacia foi introduzido por Jay David Bolter e Richard Grusin na virada do milênio, e define os efeitos de invisibilidade que os meios digitais são capazes de produzir ao utilizador. Hoje, entretanto, tal invisibilidade já não é metafórica: as empresas de tecnologias desenvolveram televisões OLED transparentes.

Até parece coisa tirada da ficção-científica, mas não é. A ideia de o meio mimetizar o ambiente de maneira a se camuflar não é nova. Alguns televisores da sul-coreana Samsung são capazes de, por meio de inteligência artificial, reconstruir, replicar a textura e cor de uma parede de forma a se camuflar com a mesma.

As telas ‘see-through’ já existem há algumas décadas, mas esta é a primeira vez que o consumidor poderá ter acesso a estes produtos. No mercado, o mais comum é encontrar LCD transparentes, telas que, apesar de serem ‘see-through’, têm opacidade maior do que as telas OLED desenvolvidas nos últimos anos. Por consequência, os LCD ‘see-through’ são media menos “transparentes”, ou mais perceptivas que as telas mais recentes.

A realidade aumentada (AR, do inglês ‘augmented reality’) também surge como forma de digitalizar o mundo real, umas vezes acrescentando criaturas fantásticas à realidade (caso do famoso jogo de celular Pokémon GO), outras servindo como sistemas de navegação, em veículos espaciais. Mas nem só de sucessos se fez a AR, como o caso do projeto-fracasso que foi o Google Glass.

De fato, LG e Panasonic foram um passo além. Ao invés de a tela se esconder por meio de mimese do ambiente, esta é completamente transparente, inundando a realidade com objetos virtuais. Nenhuma das empresas disponibilizou a tecnologia para o consumidor padrão/familiar. No caso da LG, a tecnologia já está disponível, mas a ‘Transparent OLED Signage’ só é vendida como solução empresarial.

Já o conceito da Panasonic, que se deve tornar acessível em alguns anos, apenas acentua a profunda digitalização a que a realidade tem sido exposta desde a invenção dos computadores, em meados do século passado. Se por um lado os processos de mediação tem sido cada vez mais apagados, consequentemente por outro também virtualidade e realidade.

Ora, é possível ir a um museu, como propõe a sul-coreana LG, e ver, ao lado de um fóssil, uma reconstrução de como este se devia comportar, mover-se, ou ainda se alimentar. Isto tudo enquanto vemos o que está do outro lado do painel de vidro. A pergunta que fica, no fundo, é “até quanto o virtual vai se tornar realidade?”, ou quão naturalizada a virtualizada se pode tornar.

O processo de naturalização dos meios é gradual e depende do grau de interação com aquele medium, das capacidades cognitivas do indivíduo e da plasticidade do cérebro, que vai diminuindo com o envelhecimento. Quanto mais naturalizado o meio se torna, também é maior a sua transparência para aquele indivíduo. Mas tentar saber como vai ser o futuro é mero advinhismo, por isso mais vale deixar essas perguntas para as cartas.

Gabriel Rezende