A nossa relação com as artes tem vindo a alterar-se, sobretudo, devido à reprodução técnica. Esta alterou o modo como vemos as formas artísticas e gerou outras novas. Na reprodução, o aqui e agora desaparece. As obras reproduzidas não têm as marcas da original (marcas históricas). Apenas os museus guardam esses exemplares únicos da arte pré-medial e conservam a aura dos objetos originais.

A nossa experiência de determinada obra só existe através do processo de reprodução técnica. Conseguimos ter a experiência de várias obras de arte, mas nunca vemos a original. De acordo com o filósofo Walter Benjamin, com a reprodução técnica, a arte deixa de ser singular e única e as obras perdem toda a sua aura e autenticidade.

A visita virtual é um exemplo de como os meios digitais alteram a nossa visão da obra de arte. A Google tem um projeto chamado de Google Arts & Culture que nos permite visitar virtualmente muitos espaços culturais do mundo, utilizando tecnologia do Street View. Ao “transitar” pelas galerias, é possível visualizar imagens de obras com grande resolução. De facto, os espaços criados são completamente imersivos, o que faz com que os utilizadores se sintam como se estivessem realmente a visitar o local. Portanto, o ato de visitar está a ser remediado e até mesmo a obra é remediada, através da imagem fotográfica. Nós “visitamos” o espaço através de uma câmara virtual (que, de facto, não é uma câmara, mas sim um programa de computador) que simula outra câmara. Esta “câmara virtual” é feita de software em vez de lentes, objetivas e oculares. Neste projeto, a Google deu especial importância a determinadas obras, digitalizando-as por meio da tecnologia de gigapixel, o que permite a sua visualização até sete bilhões de pixeis.

Google Arts & Culture

Hoje, vivemos num universo onde a lógica de reprodução da arte domina a nossa vida. Mais uma vez, devido à tecnologia, deixamos de viver o real em prol do virtual. Na atualidade, toda a obra de arte é realizada a pensar na sua reprodução, de forma a ser facilmente divulgada e a alcançar o maior número de pessoas. Os media permitiram a reprodução das obras de arte, por vezes reproduções múltiplas, devido ao seu automatismo. Assim, os meios como a fotografia e o cinema têm como característica intrínseca da arte a reprodução. A reprodutibilidade técnica contribui, desta forma, para a massificação não só da arte como também da sociedade.

Gabriela Pereira