O filme Bandersnatch é escrito por Charlie Brooker, o mesmo autor da franquia The Black Mirror da Netflix. A proposta dos criadores é que seja um filme interativo, entretanto, ponho em questão: Será mesmo os espectadores que controlam o filme ou será tudo uma ilusão? Não se pode dizer que não há interatividade porque de fato o espectador escolhe certas ações que determinam o final do filme. São oficialmente 5 finais distintos que são proporcionados com as escolhas que fazemos, entretanto, há inúmeras combinações de cenas que fazem com que o enredo do filme seja composto por diversas ações. Ou seja, pode ser apenas 5 finais, contudo, são acompanhados com inúmeras variantes de enredo, compondo um fluxograma complexo. É válido ressaltar que ainda existem cenas que não foram desbloqueadas pelos espectadores. 

O enredo do filme é composto de uma metalinguagem interessante, pelo facto de Stefan Butler (Fionn Whitehead) ser um programador que está trabalhando na construção de um videogame cujo o elemento principal é de fazer o jogador escolher quais caminhos seguir baseado nas escolhas que o próprio jogo dá, assim como o filme que estamos assistindo. Além do caráter interativo do filme, podemos perceber a dimensão da imersão a que somos sujeitos. Ao decorrer do filme o personagem percebe que há alguém tomando as decisões por ele, ditando o que ele tem que fazer ou onde deve ir. Isso constrói uma relação íntima do espectador com o filme e ressalta novamente a metalinguagem porque se assemelha à um jogo onde estamos decidindo pelo nosso personagem e ele reage às decisões que tomamos. 

O caráter duvidoso sobre ser interativo ou não reside no fato de que há escolhas certas a serem tomadas para que o filme tome o rumo idealizado pelos criadores. Dependendo da escolha tomada e do resultado ganhado, podemos voltar a cena anterior ou seguir em frente ao rumo do final, isso pode criar um looping quase que confuso ao espectador. Isso significa que não há tanto livre arbítrio assim como pensávamos que iríamos ter. 

Dito isso, é importante ressaltar os objetivos da série Black Mirror que desde dos seus primeiros episódios fazem com que seus espectadores reflitam sobre a nossa imersão nas redes sociais ou melhor a vida cibernética no geral. Mais uma vez os mesmos criadores fazem que reflitamos sobre isso em Bandersnatch. Aliás, no filme o personagem principal percebe que perdeu o controle de tudo, até mesmo da sua mente. Será mesmo que estamos no controle, ou que tudo é uma ilusão? Será que existem certas coisas que são escolhidas por nós ou será que nós somos escolhidos para certas coisas?