Os anúncios do Samsung QLED 8K abreviam a história dos últimos 500 anos, no sentido em que foram os pintores renascentistas que desenvolveram os estudos sobre a perspetiva. A perspetiva (ou “tradição”) compositiva renascentista apresenta nas suas obras representações com uma grande harmonia e com todas as linhas a convergir para o centro. Podemos verificar este interesse pelo centro da imagem em ambos os anúncios, nomeadamente quando nos são apresentados o Grand Canyon e as Cataratas do Niagara (no primeiro, menos extenso) ou a grande sala de espetáculos com o piano no centro e a fonte na Piazza Navona (no segundo). Isto cria uma sensação de geometria perfeita que satisfaz os olhos do espectador, leia-se, potencial comprador.

Esta nova tecnologia de televisão anuncia-se superior a todas as outras, nas características de replicação da realidade, estando este discurso patente desde o início dos media: uma tecnologia que permite experienciar, sentir e que capta o mundo com mais fidelidade que as anteriores.
Para além de valorizar a marca, este argumento mostra que a imagem se confunde com o real, dando ênfase à natureza e à arte, mas, também, atuando em nós através de breves sugestões escritas, que estimulam o envolvimento do espectador com as sensações pretendidas.

Ainda que lhes seja característica a semelhança com o real, os equipamentos que produzem anúncios como estes (câmaras fotográficas e de filmar) também têm lugar para a efabulação. Neste sentido, no caso de um vídeo, há vários aspetos que podem ser manipulados, como o ponto de vista, a composição, a opção pela cor ou pelo preto e branco, pela luz natural ou artificial, ou mesmo a relação do realizador com o espectador.

No segundo anúncio, através de uma comparação entre o restauro de uma obra de arte, o detalhe que isso implica e a qualidade da representação que é feita através deste produto, percebemos que os meios são desenvolvidos para simularem uma perceção real e enganarem, ótica e acusticamente, os nossos sentidos. Há uma ilusão de continuidade entre o que está dentro e o que está fora da representação, exibindo o televisor como se fosse um quadro numa parede. 

Após esta análise, percebe-se que grande parte daquilo a que assistimos nestes anúncios é previamente calculado e manuseado e que, mais do que qualquer outro aspeto, a estratégia é o agente dominante. 

 

© Elliott Erwitt

Sofia Martins