Será que conseguimos alterar realmente algum problema social através dos meios sociais a que temos acesso? Sabemos que a Arte seja ela em que formato, pode ter um papel ativo nas mudanças sociais tal como disse a artista Norte-Americana Eunice Kathleen Waymon mais conhecida como Nina Simone num documentário chamado “What Happened, Miss Simone?” .

“Como podemos ser artistas sem refletir o tempo em que vivemos”
Trailer do documentário de 2015 disponível na NetflixWhat Happened, Miss Simone?

Neste documentário sobre a vida desta grande cantora que ultrapassou grandes períodos de dificuldade e de grande controvérsia com os direitos humanos enquanto artista e ativista afro-americana, testemunhando muitas vezes cenas de injustiça como o assassinato do líder do movimento dos direitos civis nos estados Unidos da América Martin Luther King Jr., e também Medgar Evers também um grande ativista proveniente do Mississípi. Miss Simone reflete em algumas músicas a revolta e injustiça que vê à sua volta e que ela própria “sente na pele” desde jovem.

Alguns exemplos das suas músicas são: “Mississippi Goddam” em que ela após a morte de Medgar Evers lança a “bomba” que a luta e a injustiça racial continuam e a desigualdade social na altura (e atualmente) a deixar vítimas inocentes. Outras músicas que refletem este estado de espírito são a “Blackbird”, “To Be Young Gifted and Black”, “Revolution” são as mais impactantes sobre o tema.

“Mississippi goddam” tocado em 1965
“Blackbird” música lançada em 1996

No caso português temos os casos de o grande cantor e trovador José Afonso que teve grande atividade e envolvimento na revolução conhecida como dos cravos a 25 de abril de 1974 que para além da mais conhecida música “Grândola Vila Morena” tem um reportório enorme de músicas de intervenção como “Os Vampiros” “O Menino do Bairro Negro” “Vejam Bem”, “A Morte saiu à rua”, “Os índios de Meia Praia”, “Venham mais Cinco”, enfim, a lista de canções de intervenção deste trovador não tem fim e todas descriminam as diferenças sociais, algumas falam da guerra do ultramar outras sobre a ditadura que ocorria sendo este preso simplesmente por expressar o seu descontentamento através da sua arte que, durante o estado novo em Portugal era um crime pois incitava a revolução, criticava a maneira como o país estava a ser governado e nesse sentido a música foi um agente mobilizador, juntou forças, uniu as pessoas que às escondidas iam ouvir o grande artista “Zeca” Afonso a tocar à noite. Um bom documentário acerca deste assunto é “José Afonso – Traz Outro Amigo Também” disponível na RTP1.

Trailer do Documentário lançado pela RTP1 disponível na RTP Play “José Afonso – Traz Outro Amigo Também”
“Vejam Bem” uma música que se desconhece a data de lançamento porém toda a música se aproveita do descontentamento geral sobre a ditadura vivida em Portugal: “E se houver uma praça de gente madura, e uma estátua de ferro a arder”.
“Venham mais cinco” uma canção já pelo título mobilizadora em que no refrão se torna ainda mais explicito a necessidade da revolução.

Refrão e duas estrofes da canção de José Afonso “Venham Mais Cinco”

“Não me obriguem a vir para a rua gritar
Que é já tempo d’embalar a trouxa e zarpar

A gente ajuda havemos de ser mais
Eu bem sei
Mas há quem queira deitar abaixo
O que eu levantei

A bucha é dura mais dura é a razão
Que a sustem
Só nesta rusga não há lugar
Pr’ós filhos da mãe”