Para Janet Murray existem quatro capacidades fundamentais do meio digital, abordadas na sua obra “Inventing the Medium – Principles of Interaction Design as a Cultural Practice”(2012). As quatro capacidades que Murray se refere são a capacidade processual, a capacidade participatória, a capacidade enciclopédica e a capacidade espacial. Segundo Murray, estas quatro propriedades constitute our design space, the context for all of our design choices”.

            A partir da leitura da obra e da visão de Murray sobre a análise do meio digital e das suas capacidades, conseguimos ter uma melhor conceção das suas funcionalidades e aplicações. Murray introduz-nos, em primeiro lugar, a capacidade processual e considera-a como a mais importantes das quatro capacidades do meio digital, na medida em que esta cria uma nova estratégia tão poderosa como a linguagem falada ou as imagens em movimento – a simulação de mundos reais e hipotéticos. Por sua vez, a capacidade participatória permite ao utilizador manipular os conteúdos digitais, dando-lhes perceção de que podem controlar os artefactos digitais de que “coisas acontecem” em resposta às suas ações. Segundo Murray, a processualidade, juntamente com a participação, são as capacidades que permitem a interatividade. Estas duas combinadas criam a “experience of agency for the interactor”, um propósito primordial para a elaboração de um artefacto digital.

             Murray afirma que o meio digital mais completo é o computador. Este contém mais informações acessíveis comparativamente aos média anteriores combinados, tornando-o, assim, um meio enciclopédico. O meio digital é enciclopédico de três formas: na sua capacidade, ou seja, no vasto número de bits de informação que pode conter; na sua extensa gama de formatos e géneros de média, de legado analógico e computacional, e na sua capacidade de representar qualquer processo através de representação simbólica lógica.       

            Por último, a capacidade espacial possibilita a criação de meios e de espaços virtuais, onde os utilizadores podem navegar. O computador constrói o espaço de um modo diferente dos outros média, pois cria espaços virtuais que são navegáveis para o utilizador. Este espaço digital é criado a partir de bits e repousa sobre as capacidades processuais e participativas da computação. A capacidade espacial é, pois, um subproduto da capacidade processual e da participativa.  

            A ELO- (un) continuity, a virtual exhibition é uma exibição on-line que explora os limites da escrita, jogos e da arte digital, convidando o utilizador a explorar a fluidez e a desafiar categorias. Esta exposição é um bom exemplo de como os meios digitais, acedidos através do teclado, rato, ecrã tátil, estimulam o nosso desejo de ver o que acontece quando carregamos numa palavra sublinhada, ou arrastamos a imagem para ver o que está para além. Os utilizadores podem, assim, participar nas expressões artísticas on-line, em obras como Living Pages, a Mighty Span e The Data Souls, em que as capacidades dos meios digitais, enunciadas por Janet Murray, nomeadamente a participatória, estão bem evidenciadas.

Referências:

MURRAY, Janet, Inventing the Medium: Principles of Interaction Design as a Cultural Practice. Cambridge MA: MIT Press, 2012.

https://projects.cah.ucf.edu/mediaartsexhibits/uncontinuity/index.html