Ao longo do século vinte por meio da experimentação, se desenvolveram misturas das formas artísticas, integração das artes e integração dos media. Segundo Dick Higgins em seu texto “Intermedia” de 1965, se desenvolveram formas experimentais que são contra a ideia de que a arte tem que ser pura e, a invenção do computador, por exemplo, passa a ser um importante elemento na produção de arte na nova era. Nesse viés, a condição multimédica da arte se aplica à várias formas artísticas e, assim, podemos ter a base de pensamento de que transformações na tecnologia transformam as práticas artísticas, estando entre essas práticas: o cinema.

O cinema traz tipicamente uma estrutura narrativa que garante uma ordem, uma sequência lógica. Em uma história, os eventos são normalmente em ordem cronológica (tempo / evento) no enredo narrativo. Contudo, no contexto da arte intermedia e as intervenções da tecnologia digital temos, como cita Jordan (2002), quando fala sobre narratividade: “A natureza dinâmica dos bancos de dados e das redes de telecomunicações abre possibilidades para estruturas narrativas alternativas que se aproximam de replicar as tendências associativas internas da mente”.

Dentre essas narrativas alternativas é que surge o Database Cinema. Esse tipo de cinema faz com que a história se desenvolva a partir de uma seleção de cenas via determinada coleção, semelhante a jogo de computador no qual um jogador realiza certos atos e, assim, seleciona cenas e cria uma narrativa. Logo, o Database Cinema não segue a narrativa clássica, não têm um início ou um final, pode começar ou parar em qualquer ponto.

Por conseguinte, o Database Cinema pode ser visto, basicamente, como uma coleções de itens discretos provenientes do banco de dados. O crítico de cinema e pesquisador na área de novas mídias Lev Manovich foi o primeiro a relacionar o banco de dados com o cinema e diz que o banco de dados e a narrativa são inimigos naturais. O russo diz isso porque o banco de dados representa o mundo como uma lista de itens e se recusa a ordenar essa lista, o que contrasta com a narrativa que cria uma trajetória. Ademais, Manovich diz que tanto a narrativa como o banco de dados estão a competir pelo mesmo território da cultura humana, cada um reivindicando o direito exclusivo de extrair significado o mundo. Fica a dúvida: há espaço no cinema para essa quebra da narrativa tradicional?