Nestas primeiras aulas, aprendemos alguns conceitos interessantes. Na minha visão, estes conceitos já nos eram, inconscientemente, familiares. São eles, como sabem, a remediação, a imediacia e a hipermediacia.

            Enquanto estudantes de artes, acredito que sempre soubemos o valor de cada uma destas linguagens. Mas, quando este horrível vírus chegou, este círculo alargou-se. Deste modo, durante o isolamento social, as sete artes foram altamente consumidas por nós nas nossas casas e, devido a este alto consumo e ao facto de as pessoas não puderem sair do seu lar, muitos artistas quiserem tornar a sua arte mais intimista. Para tal, muitos recorreram aos três conceitos dados em aula, com a intenção de aproximar as pessoas às suas produções artísticas.

            Foi, assim, disponibilizada imensa arte online, desde visitas a museus, teatros ao vivo, concertos, entre outros, para tentar oferecer uma sensação de normalidade à população. Para isto ser possível, houve uma remediação, ou seja, uma lógica através da qual novos média derivam, transformam e coexistem com os média anteriores”. Neste caso, os nossos monitores foram remediadores destas experiências artísticas, como, por exemplo, o teatro. O famoso Teatro Nacional de D. Maria, no contexto desta pandemia, disponibilizou algumas peças para as podermos ver online, uma delas foi “Alice no País das Maravilhas”, um conto original de Charles Dodgson, sob o seu famoso pseudónimo Lewis Carrol. Este conto remonta a 1865, época em que vigorava uma exigência de realismo e autenticidade emocional a nível literário. Porém, Lewis Carrol quis abandonar o padrão literário da época e adotou um conto onde “impera a lógica absurda”[1]. De modo a tornar presente a magia e o “impossível”, tão características deste conto, Sérgio Delgado associou imagem/vídeo ao cenário para que, projetado para o palco, criasse a ilusão que as personagens estavam nesses mesmos cenários projetados.

            A imediacia também esteve muito presente durante esta quarentena, na medida em que esta “opera segundo a lógica da transparência, isto é, o meio tenta esconder-se e tornar-se invisível”. Ao longo da última década, os computadores tornaram-se mais pequenos, as televisões mais finas, os telemóveis mais funcionais… A necessidade de diminuir o meio e envolver a pessoa na experiência é cada vez maior. Anteriormente, diríamos que isto era um avanço tecnológico. No entanto, durante o isolamento social, foi mais que um avanço tecnológico… foi um avanço pessoal. A imediacia permite ao espectador mergulhar na obra, através dos seus processos de transparência, naturalização e ocultação do meio. Estes sistemas, juntamente com outros efeitos, focam o espectador na tela, fazendo-o esquecer aquilo que o rodeia.

            A hipermediacia, ao contrário da imediacia, opera segundo a lógica da opacidade, isto é, o meio mostra-se e torna a sua presença visível. A hipermediacia, neste período atípico, despertou-nos para a realidade nua e crua das nossas vidas, às vezes, monótonas, passadas infinitamente no sofá.

            Sem dúvida que estes três conceitos, sobretudo os dois primeiros, foram decisivos para nos oferecer alguma “normalidade” neste período excecional.


[1] https://www.tndm.pt/pt/espetaculos/alice-no-pais-das-maravilhas/