De acordo com Lev Manovich, vivemos num mundo em que, cada vez mais, existe uma dependência digital. A nossa “cultura do software”, baseia-se na utilização de software nas mais ínfimas e simples práticas humanas, bem como nas mais complexas e amplas. Ao utilizarmos o nosso dispositivo digital, estamos, automaticamente, a adaptar-nos a um software e a realidade é que temos, progressivamente, utilizado este dispositivo para qualquer procedimento diário de interação social, profissional ou até criativo. Devido a esta acomodação técnica em virtude da conveniência digital e ao facto de o nosso smartphone se ter tornado um “acessório” imprescindível no nosso dia a dia, até os nossos documentos pessoais, como a carta de condução ou cartão de cidadão, vão passar a ser digitais.

O Governo português divulgou um novo projeto de decreto-lei que vai implementar alterações no código da estrada. Uma das maiores alterações passa pela digitalização da carta de condução, que irá estar formatada numa aplicação para smartphones. Desta forma, outros documentos relacionados com o carro como o registo de propriedade, a ficha de inspeção e o certificado do seguro também irão ter uma versão digital e, por isso, o condutor vai deixar de ter obrigatoriamente consigo os documentos físicos. A aplicação id.gov.pt da Administração Pública vai permitir que sejam guardados estes e outros documentos, para que os possamos aceder através de uma Chave Móvel Digital (meio de autenticação através da associação de um número de telemóvel e o número de identificação civil).

 

Deste modo, atualmente, documentos que comprovam a credibilidade de feitos sociais e pessoais, como ter a carta condução, são digitalizados e compreendidos na base de dados de uma aplicação. Esta autêntica ascensão digital revela a, cada vez maior, organização do mundo que nos rodeia, através de um sistema de base de dados. Os elementos em questão são agrupados numa base que pode sofrer várias operações, permitindo ao utilizador ver, guardar, enviar e procurar os itens e informações que necessita apenas com o seu dispositivo técnico. Assim, é percetível que existe uma enorme propensão de estruturação da experiência social sob essa mesma forma de organização (a base de dados). 

A já referida potencialidade de armazenamento de dados torna implícita uma capacidade do meio digital: a enciclopédica. Devido a esta característica do meio, todas as informações possíveis podem ser acumuladas, visto que o meio tem uma capacidade ilimitada de armazenamento. Assim, as informações podem ser passadas de pessoa em pessoa da forma mais fácil possível, não sendo necessária a sua conservação literal, ao contrario do material físico que pode acusar fragilidade.

Em suma, dado o exemplo desta nova medida do código da estrada, pode-se compreender a importância cada vez mais significativa que o meio digital, os seus pilares e particularidades, têm na sociedade em que vivemos.

Escrito por: Diana Silva