No contexto em que vivemos atualmente, grande parte da construção da atmosfera mundial que nos rodeia é feita a partir dos nossos dispositivos. Esta realidade medial dá-nos acesso a diferentes meios como a TV, a imprensa, a música, a fotografia, o cinema, etc… 

Quando novas formas de registo começam a ser problematizadas, essencialmente a partir do século XIX, o modelo que surge como ponto de partida é a escrita. Neste sentido, apesar destas formas de registo implicarem uma espécie de inscrição que fica marcada numa superfície, a ideia é inventar um processo de escrita distinto, significando isto que se começa a desenvolver um método que, apesar de partir de um sistema comum, é independente das tradicionais inscrições alicerçadas pelo alfabeto. Estas novas formas de registo passam, assim, a ser resultado dos processos de invenção técnicos e científicos. Isto acontece no cinema, que cria uma inscrição da imagem em movimento. 

Fruto da compreensão da vida humana, o cinema debruça-se no prazer que se tira do olhar sobre uma história. Para além daquilo que ouve, o espetador é cativado pelo que vê e pela emoção que sente quando um meio narrativo alimenta a sua visão. Mais do que sabermos o que foi a Guerra Civil Americana é termos uma Vivien Leigh ou um Clark Gable no centro de um drama que conta, de forma extraordinária, a história do que foi o período mais conturbado da nação americana. Mais do que sabermos da existência de conflitos familiares é comovermo-nos com a história de um homem de 73 anos que percorre mais de 500 km num corta-relva para tentar recuperar a sua relação com o irmão doente e que não vê há mais de 10 anos. 

The Straight Story (1999), dir. David Lynch


Desta forma, a Sétima Arte detém uma grande importância devido ao seu poder para captar a singularidade de alguém ou de algum aspeto da vida que, por vezes, pode ser apenas um olhar. Para além da sua característica de unicidade, desenvolve, não só o nosso espírito crítico e a nossa capacidade de introspeção, mas também a relação que temos com os outros, connosco próprios, com os vários meios que nos rodeiam e com a arte. 

Sofia Martins