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O conceito de imediacia foi introduzido por Jay David Bolter e Richard Grusin e refere-se à consciência que o espetador tem do meio que foi utilizado para produzir aquilo que observa. A forma como as novas tecnologias de comunicação e informação mudam o mundo e a perceção dos espetadores é algo relativamente novo quando comparado com a história da humanidade. Marshall McLuhan acredita que os meios tecnológicos são como uma extensão do corpo, como, por exemplo, os óculos são uma extensão dos olhos. Mas será isto verdade? Atualmente, inúmeros profissionais do mundo da música, cinema, artes digitais, fotografia… trabalham no sentido de enganar o espetador, ludibriar os seus sentidos ao máximo, fazendo-o acreditar numa realidade forjada. No geral, todos os artistas estão cientes do seu meio. Escolhi abordar, em particular, a indústria do som para cinema, na sua vertente de edição sonora.

Em 1935 foi iniciada a comercialização do Magnetophone (inventado pelo alemão Fritz Pfleumer), o primeiro gravador de som magnético que transferia a informação para as fitas das famosas K1. Assim começou a edição de som, em modo analógico, uma vez que as cassetes podiam ser reproduzidas a diversas velocidades alterando o tempo e o tom. O som podia ser misturado em película (como se montavam filmes), alterado em câmaras de reverberação (reverb), modificado com o auxilio de filtros áudio, loops, reversão temporal, variações de volume, recorrendo a loops,… Mais tarde evoluímos para os sintetizadores e para a era da música em 8 bits (formada a partir de gráficos).

Ao ver um filme um engenheiro de som tem tendência, ao contrário do comum espetador, para estar atento ao meio e não à experiência que foi criada para quem assiste. Em cinema a maioria dos sons que ouvimos produzem a sensação, no entanto, cerca de 80% dos sons de um filme são inseridos em Pós-Produção (100% no caso do Cinema de Animação). A reprodução do fenómeno psico-acústico é feita em estúdio, trata-se de um processo extremamente demorado e complexo do ponto de vista técnico.

 As técnicas de produção sonoras são possivelmente as mais difíceis de estudar e de identificar quando não se trata da nossa área profissional. Estamos acostumados a ignorar (ou processar subconscientemente) a maioria dos sons do nosso meio ambiente. A nossa principal fonte de informação sobre o ambiente envolvente é visual, embora o cérebro percecione que é incomum ver, por exemplo, uma boca a mexer sem que dela saiam palavras. Estamos acostumados a pensar no som em cinema apenas como um acompanhamento para a informação visual, sendo isto música.

Paradoxalmente os melhores efeitos sonoros no mundo do cinema, são os que passam despercebidos aos espectadores. As principais funções do som numa obra cinematográfica são as seguintes: criar predisposição para a cena e ajudar/influenciar a interpretação da cena.

Em termos de produção existem três grandes categorias:

  • Diálogos e Vozes – gravados normalmente em pós-produção para que não haja ruído na gravação e que o texto tenha maior perceção
  • Efeitos Sonoros – divididos em foley (sonorização de todos os movimentos/acções dos personagens), paisagem sonora (contextualiza a cena) e efeitos especiais (para criar sons que não existem na nossa realidade)
  • Música – induz no espectador a carga emocional da cena

Olhando para o som em cinema através de uma perspectiva mais orientada para a intenção perceptual e estética, podemos fazer uma análise diferente. Atentando no som diegético (som objectivamente produzido pelos elementos reais de uma cena), som Não-Diegético (não é produzido pelos elementos reais de uma cena, mas que estilisticamente ajuda à leitura do espectador, como a música). Um conceito introduzido por Claudia Gorbman em 1976 na taxionomia de som para cinema é o som meta-diegético e define-se como som imaginado (ou alucinado) por um personagem, transcendendo o som diegético e é utilizado para ilustrar o estado de espírito alterado de um personagem, do ponto de vista do próprio. O som onírico é um caso particular do som meta-diegético, foi introduzido por Michel Chion em 1944, e retrata um momento de imersão total do personagem num evento despoletado no universo diegético.

A estes processos os engenheiros de som associam jargão profissional de transformação e edição de som como amplitude, tonalidade, timbre, espacialização, profundidade, focagem sonora, manipulação de timbre e de panorâmica, máscara auditiva, som interior, sobreposição, antecipação, “Split Second”, “Mickey Mousing” e Leit Motif; percecionando a sétima arte de uma forma peculiar.

Fontes Busoni, Feruccio. Sketch of a New Aesthetic of Music Gorbman, Claudia. (1976). Teaching the SoundTrack Chion, Michel. (1994). Audio-Vision: Sound in Screen. New York: Columbia University Press Barbosa, Álvaro. (2000). O Som em Ficção Cinematográfica