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O que você preferiria: ir a uma exposição de arte numa galeria comum ou numa exposição de arte imersiva, em que o principal objetivo é trazer o observador para dentro da obra? Não fico surpresa se a sua escolha foi a segunda opção, pelo menos essa é a tendência atual. A arte digital ganhou destaque nos últimos tempos e a ideia de conectar obras de arte com tecnologia tem conquistado cada vez mais adeptos pelo mundo. 

O Atelier de Lumières, em Paris, inaugurado em 2018, foi um dos que apostou no sucesso da arte digital. Apenas no primeiro ano de funcionamento, o atelier recebeu cerca de 1,2 milhão de visitantes, comprovando o êxito do projeto que conquista o público através da vivência sensorial de uma obra de arte. As infraestruturas audiovisuais, como as projeções 360 graus e o show de luzes são os encarregados de criar o cenário ideal de conexão entre a arte e o observador.

Não é de hoje que observamos o movimento de trazer elementos tecnológicos para o mundo artístico como uma forma de torná-los mais interessantes para o público. Nascem museus com visitação virtual, interações ‘online’ com as obras, além das exposições lúdicas que prometem experiências que vão além do visual. O objetivo é enriquecer a experiência de apreciar uma obra de arte e, também, proporcioná-la a todos, independente do seu lugar no globo. 

Assim, faço mais uma pergunta: até que ponto a intervenção tecnológica no mundo artístico não está a tornar a arte pura e clássica algo ultrapassado? A simples experiência de visitar uma exposição e apreciar a obra de arte tem se dissipado diante das inovações. Um museu sem atributos digitais é arcaico e perde espaço no mercado. 

Para um artista fazer sucesso atualmente, arrisco dizer que não basta ter talento. O mundo moderno exige um diferencial para se destacar. O público, cada vez mais exigente e em busca do novo, não se contenta com o tradicional. Qual experiência é mais valiosa: observar um quadro ou entrar num quadro?  

De certa forma, a lógica da competitividade capitalista somada as capacidades tecnológicas e de reprodução da arte são obstáculos na preservação da arte na sua essência pura. O filósofo e escritor de “A obra de arte na era da sua reprodutibilidade técnica”, Walter Benjamin foi um dos que se debruçou sobre esse tema. Para o autor, a reprodução técnica das obras aproximam o observador do objeto artístico, mas também retira da obra a sua aura e autenticidade. À medida que a arte é reproduzida, esta é também atualizada e, consequentemente, afastada da sua singularidade. 

Com a modernização do mundo artístico, sentimo-nos mais próximos da arte do que nunca, contudo, caminhamos no sentido contrário à sua verdadeira essência.

Por: Júlia Fernandes