Quando recorremos aos escritos de Walter Benjamin notamos uma vontade de pensar a reprodutabilidade da qual as obras de arte se vêem (hoje) sujeitas, sendo que isso produz tanto vantagens como desvantagens.

Desde os primórdios da criação artística que esta sugere a sua apreciação e contemplação estética, embora a disciplina só se tenha consolidado na transição do século XVII para o século XVIII. A atitude estética que uma obra invoca é absolutamente essencial para o seu conhecimento e estudo, tornando-se imprescindível o contacto direto, em primeira mão, com a obra. Tal como Benjamin refere, a obra material e única abarca uma aura que é inerente a si mesma, uma marca contextual histórica que só existe naquele tempo e naquele lugar concretos. Ora, com a reprodução técnica de uma obra de arte e a sua divulgação massificada, perde-se precisamente essa unicidade e empatia para com a obra, que necessita de tempo e de oportunidade de relação com o observador, um dado que é vigente aquando do contacto direto deste com uma determinada obra.

Este argumento vê-se sustentado, por exemplo, com obras de arte do século XX e XXI, como as estruturas escultóricas de Richard Serra, que incitam precisamente ao contacto presencial com as suas obras, ao tato, ao movimento pela obra, à sonoridade que se gera, pois as sensações que estimulam são completamente distintas da sua reprodução fotográfica, sendo que não há como substituir a dimensão tátil, sonora e percetiva do contacto em primeira mão.

Richard Serra, Torqued Elipses

Por outro lado, não se deve desconsiderar a reprodução fotográfica das obras, dado que têm inúmeras vantagens para o estudo das obras. A fotografia permite-nos uma série de benefícios: a) é crucial para a preservação de património que se encontra destruído, funcionando como uma memória cristalizada daquela obra; b) permite criar comparações entre várias imagens, sedimentando o seu estudo iconográfico; c) permite aceder a diferentes ângulos e luminosidades que, presencialmente, nem sempre são possíveis (devido ao posicionamento das obras), dispondo assim de detalhes minuciosos que apoiam o seu estudo.

No fundo, a era tecnológica e os seus meios são-nos fulcrais e não devemos dispensá-los, porém também devemos manter um distanciamento crítico quanto a eles, para não mergulharmos de tal modo que nos esqueçamos que somos seres vivos reais com uma perceção sensorial do mundo, que altera de modo impactante a nossa relação com os seres e os objetos.