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Eduardo Kac é um dos pioneiros no campo da arte e tecnologia. Desde o início da sua carreira, o artista apostou em exposições que fossem além da arte convencional, ao propor interações com o público e adotar o uso de tecnologias, que no final do século passado ainda eram pouco familiarizadas, às suas obras.

Em uns dos seus primeiros trabalhos reconhecidos, o artista criou a Holopoesia, uma linguagem verbal/visual que explora as questões formais e semânticas das palavras e imagens enquanto as transmite num espaço holográfico; este é baseado na interferência luminosa de fontes de luz para reproduzir imagens que recriam em 3D a aparência de um objeto que não está presente. Kac, ao transformar a poesia tradicional num holograma, estabelece o princípio da transcodificação cultural na sua obra. Os conceitos culturais e formais da poesia são substituídos por novos ao serem transformados em holografia, dando origem a holopoesia. 

Eduardo Kac trabalha o conceito da transcodificação cultural ainda em outras obras suas, como é o caso de Gênesis. Nessa exposição, Kac cria um “gene de artista”, originado através da tradução de um trecho do Velho Testamento – que passa por dois processos de transcodificação até se tornar um gene. O trecho era traduzido para código Morse e, depois, transformado em DNA. Para a execução da obra, o artista definiu que os traços do código Morse representariam a timina, os pontos a citosina, o espaço entre as palavras a adenina e o espaço entre as letras a guanina; de forma a constituir um código genético sintético. Na exposição, foram instaladas placas sobre uma caixa de luz ultravioleta, que era controlada por participantes a partir da internet. Ao acionarem a luz UV, os telespectadores causavam a mutação do código genético. 

Kac busca, em muitos dos seus trabalhos, trazer a interação com o público através da internet. A exposição ‘Teleporting an Unknown State’ é um exemplo: esta ocorria num espaço sem luz, no qual eram colocadas sementes que eram monitoradas ao vivo pela internet. Para fornecer luz à semente, e fazer com que essa desenvolvesse, era necessário que o internauta captasse a luminosidade com sua câmera digital e enviasse as imagens para o site da galeria, que as projetaria na planta. Kac faz o uso de tecnologias digitais para a conclusão da sua obra, além de exigir a participação do público para tal. 

O artista desenvolveu, também, a telepresença no meio artístico no final dos anos 80, ao apresentar um robô de controle remoto que interagia com os telespectadores geograficamente distantes. Anos depois, Kac criou “Rara Avis”, obra de arte telepresencial e interativa que contava com a utilização de um visor de realidade virtual e ligação com a internet. Nesta obra, o público utiliza o capacete de realidade virtual para enxergar como se fosse o robô papagaio, que se encontra num viveiro com pássaros reais em frente aos visitantes. O capacete tem como objetivo fazer com que os espetadores vejam e ouçam como o papagaio e, ligado à internet, faz uma troca de experiências com o robô. 

Eduardo Kac é um dos pais das obras digitais e da intervenção tecnológica no meio artístico, de forma que foi, e ainda é visto, como alguém “além do seu tempo”. Algumas das suas obras são temas de discussões sem fim, por suscitarem debates acerca da ética, filosofia e tecnologia na sociedade moderna.