Apesar de hoje ser um objeto ultrapassado, a máquina de escrever como tecnologia tem um enorme significado cultural. Criada no século XIX, a nova forma de produção da linguagem revolucionou a sociedade e todos os segmentos ligados à escrita, que até então era à mão: reproduzia-se a caligrafia, que permitia (e ainda permite) uma projeção do indivíduo daquilo que ele escreve, ficando a sua assinatura marcada materialmente. A nossa caligrafia é, portanto, uma marca da nossa singularidade.

Com o passar do tempo, a escrita vai se generalizando gradualmente, fazendo com que se torne complexa ao ponto de exigir adaptações. Havia a necessidade de uma escrita mais rápida, de forma uniforme, que seria legível para todos, ou seja, foi inevitável criar o mecanismo de burocratização da escrita para atender os anseios de uma sociedade mais complexa.

À medida que a sociedade se torna mais complexa do ponto de vista técnico e social, é necessário criar um sistema de registro, sobretudo na gestão e na administração do setor de produção. Dessa forma, as máquinas de escrever são introduzidas em uma instituição que visa economia, sobretudo de tempo e função.

Subtraindo trechos de Fernando Pessoa, em períodos modernistas e pré-modernistas, temos uma carta escrita a Armando Côrtes-Rodrigues em janeiro de 1915: “É pena que vá tudo em letra de máquina que torna a poesia pouco poética, mas assim é mais rápido e nítido”. (Pessoa, 1999) Nessa altura, o escritor não tinha uma ligação profunda com a máquina de escrever, o que muda no final dos anos 20. Em 1929 já escreve a João Gaspar Simões: “Vai a máquina porque assim a letra é clara e a resposta mais livre dos empecilhos da escrita…” (Pessoa, 1999)

Observamos claramente que a máquina de escrever vai sugerir outras formas de remediação. A máquina cria uma distância significativa entre a escrita e o sujeito, que é o que acontece quando se escreve em um teclado, uma vez que há códigos limitados. Porém, no processo de adaptação, a sociedade percebe que ela é necessária, pois é como uma continuação do pensamento do autor, sendo um veículo de pensamento “rápido” e “nítido”, mesmo havendo individualidade, e nem sempre obedecendo aos pensamentos decorrentes.

Bibliografia: ZHOU, C. 2013. A Máquina Triunfal: a importância da máquina de escrever na proliferação heteronímica de Fernando Pessoa. Universidade de Coimbra. URI: URI:http://hdl.handle.net/10316.2/29990

Ebony Stephanie S. Alberto