Quem é o autor?

A questão de dar créditos a um autor/artista, de dar ao artista o reconhecimento que merecem relativamente à arte que produzem, ou da questão de revolta em relação ao conceito de autor.

Durante muitos anos na história da arte e dos artistas, a questão de quem era o autor era relativo, peças de arte feitas num estúdio de um “mestre” podia ser assinado pelo mesmo, ao invés de pelo artista (algo que ainda atualmente pode acontecer). Quem é o artista numa instalação gigante de um artista, como por exemplo, de Joana Vasconcelos, é ela quem pensa as peças, é ela quem idealiza, mas qual é a importância dada aos artistas que realmente fazem as composições? Ninguém fala dos artistas contratados para pegar nos tachos, nos garfos de plástico, e os transforma nas peças, tão aclamadas, de Vasconcelos.

Durante anos, livros escritos por mulheres eram assinados com nomes masculinos, sendo que por vezes obras de literatura escritas por mulheres casadas, quem assinava a autoria era o marido, podemos ver isso no caso do “Frankenstein”.

“Como fazer um poema dadaísta” de Tristan Tzara, mostra esta revolta contra o gênio, o conceito de autor. Então para ser um poeta, para escrever um poema apenas precisamos de recortar palavras, pôr estas palavras num saco e escolher aleatoriamente as palavras sem nenhuma sequência previa. Onde está na verdade o autor, será então esse o verdadeiro ator?

Com o aparecimento do experimentalismo, o conceito de autor é posto em questão, o que é o autor? O que é o original? Todos nós, artistas, temos inspirações. Um escritor, não está a criar palavras, não cria as letras, apenas as junta e mesmo aí é uma repetição; o músico que faz “sampling” de outras músicas, que tira inspiração de melodias.

Existirá uma verdadeira arte literária?

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O conceito de “autor” iniciou-se com o seu desconhecimento à sua revelação no mundo da arte, com grandes nomes como Michelangelo ou Leonardo da Vinci. Foi então depois, no séc. XVIII que a arte literária se tornou reconhecida como uma singularidade na arte, passando então a revelar-se o autor literário.

Este mesmo autor iniciou a sua grande fase de escrita de livros com a grande e antiga máquina de escrever, o que tornava o seu trabalho muito mais real e físico, mais palpável e trabalhoso, pois a máquina tinha as suas complexidades. É até mesmo como se o seu trabalho fosse mais digno, com muita mais vida, que os dias de hoje. Isto porque, nestes nossos tempos modernos, onde a tecnologia é desenvolvida a cada minuto que passa e onde ela é um dos pilares do nosso quotidiano, tudo é muito mais simples e rápido com um pequeno toque na tela do ecrã de um dispositivo móvel e/ou do toque na tecla macia de um computador. A arte literária tornou a sua base digital: a busca pela inspiração e/ou informação é instantânea e pode ser acessada em qualquer lugar e hora; a suposta escrita é fácil e simplificada, qualquer aparelho já terá em si o acordo autográfico mais recente, a correção das linhas e parágrafos, etc; ou seja, nos dias que correm, escrever é mais simples, menos complexo, mais rápido e mais fácil. Já no antigamente, o autor tinha muitas mais adversidades no seu caminho e o seu trabalho era até mais exaustivo.

Ter-se-á o autor tornado apenas uma fonte, por puramente ter ideias? Será o nosso autor do presente diferente do autor passado? Será “menos autor” que ele? Serão os contos de outrora a verdadeira arte literária?

Quando os Movimentos Digitais se Transformam em Resultados Reais 

A histórica marcha sobre Washington D.C. em 1963, liderada pelo ativista revolucionário Martin Luther King, na qual se gritou em protesto por alguns dos temas mais fragmentários da história americana, como pelo fim da segregação e imposição de liberdades individuais oprimidas por séculos, levou cerca de seis meses para ser planificada e organizada na totalidade.

Quase 60 anos depois, na mesma capital, apoiantes de Donald Trump, alavancados por tweets do mesmo na rede social, no qual incentivava a um protesto em massa em Washington contra a sua derrota nas eleições de 2020, resultou num aglomerado de dezenas de milhares de pessoas a 6 de janeiro de 2021 que deliberadamente invadiram o Capitólio, e que facilmente poderiam ter causado uma das maiores tragédias na história recente do país.

Tudo isto, por causa de tweets, num curto espaço de tempo.

A globalização e massificação dos media, incorporando as redes sociais, expandiram o alcance mediático de todo o tipo de informação. Em 1963, foi preciso meio ano, de forma a se reunirem as condições para a luta contra a repressão de dezenas de milhões pessoas. Atualmente, um post é suficiente para inadvertidamente, ou neste caso em específico, deliberadamente mobilizar grupos populacionais de forma extremamente eficaz, especialmente quando é feito por pessoas ou entidades com um engajamento enorme ou em cargos de relevância.

Então, serão as redes sociais um dos principais responsáveis por próximos eventos catastróficos?

Não necessariamente, seria injusto atribuir essa responsabilidade a extremistas com acesso à Internet, mas acima de tudo, seria um desserviço a todos os eventos de ativismo nobres que tem a sua origem no digital e que permitem que o movimento se dissemine.

Porém, não é ao acaso que países cuja população é sujeita a regimes ditatoriais, por exemplo, filtram ou bloqueiam informações relacionadas aos media ou o acesso a redes sociais, pois estas têm o poder de estreitar os interesses da população de tal forma que seja impossível conter uma massiva luta por direitos, por o quão facilmente os meios digitais permitem organizar movimentos de forma eficaz.

Por outro lado, caso estes movimentos sejam guiados por “fake news” ou “malinformations” os resultados podem induzir em eventos que espalhem essa desinformação, em alturas criticas que facilmente podem ter resultados catastróficos, alienados por grupos extremistas ou conservadores, como se verificou em épocas altas da pandemia Covid-19, contra o uso de máscaras e vacinas, que usam a revolta e desespero generalizado da população para servir interesses mal intencionados.

Daí a responsabilidade individual e coletiva de como utilizamos o enormíssimo poder que movimentos criados no digital têm, para que se traduzam em resultados benéficos e nobres na vida real.

Democratização da arte: Arte Digital

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Democratizar a cultura é uma metodologia, que ajuda a fomentar o pensamento critico e a educação de uma população. A democratização da arte é parte desse regime. Segundo Maria Acaso, chefe do departamento de educação do Museu Rainha Sofia, em Madrid:

O pensamento artístico é isto, baseia-se no pensamento crítico sobre a vida, o conhecimento, o feminismo, a democracia. A arte contemporânea está muito voltada para o estranhamento, para fazer as pessoas pensarem e questionarem o que se passa em seu redor

A arte contemporânea e a digital vem questionar a genialidade das peças de arte e propõe que os objetos artísticos sejam parte de um processo colaborativo e não da ideia de um único génio.

Desde o Renascimento, os críticos de arte e a media é que decidem que o valor de uma obra de arte. Esta é visada como uma tradição artística manufaturada e que não tem em conta as pessoas (artistas), e o seu talento. Sem o apoio dos ricos e dos poderosos que tomam tais decisões, quem consegue sobreviver no mundo da arte?

O poder tem de partir, não apenas diretores dos museus, mas também do público, para tomar certas decisões nas organizações artísticas. Com a arte digital, todos os artistas encontrarão um espaço no mundo das artes, e ninguém ficará de fora. Esta arte criada a partir da multimédia vem gerar milhares de obras de artes, que a nível de produção e exposição, tem á partida orçamentos mais baixos do que as obras de arte físicas.

A democratização da arte passa pela apreciação da arte digital, que promove a educação visual e a difusão do pensamento contemporâneo com argumentação critica, problematizando noções pré concebidas pelo mundo da arte, que ainda pertence a elites.  

Seria a inteligência artificial o fim do autor humano?

Em 2020, foi lançado o GPT-3 (transformador generativo pré-treinado 3). Esta tecnologia é um modelo de linguagem que utiliza de uma forma de aprendizagem profunda para produzir textos semelhantes ao humano. E sua precisão é tão grande que chega a ser difícil distinguir um texto produzido pelo GPT-3 de um texto produzido por uma pessoa – a ponto de ser avaliado pela New York Times como capaz de escrever uma prosa original com fluência equivalente a de um humano. O que levanta duas questões principais: seria a intelência artificial um autor? e progamas como o GPT-3 poderiam causar o fim do autor humano?

Em 1968, o filósofo francês Roland Barthes publica o seu ensaio entitulado Morte do Autor, no qual define que “é a língua que fala, e não o autor”. Para Barthes, tudo o que é escrito não passa de uma transcrissão de um compilado de referências culturais. Assim, a perspectiva do autor é desconsiderada e a obra não precisa ser explicada pela vivência de quem a produziu. Critícos como Barthes, e até mesmo Foucault, defendem que a interpretação de uma obra por parte de qualquer leitor não deve ser influencida por quem a escrever. Partindo desta visão, sim, o GPT-3 seria um autor. Mas existe outro ponto a ser levado em consideração.

A arte é uma expressão da imaginação e da habilidade criativa humana e passa a ser apreciada pelas emoções que gera e transmite. Por mais que a inteligência artificial possa gerar e transmitir emoções, esta não tem capacidade imaginativa e criativa. Tudo o que foi escrito e criado por uma inteligência artificial utiliza referências encontradas no seu banco de dados. O artista alemão Mario Klingemann levanta um ponto interessante sobre a arte reproduzida pela inteligência artificial: “no processo de produção a IA perde aspectos subconscientes e emocionais que os humanos acrescentam à comparação, mas isso não é porque a máquina não tem alma, mas porque esses aspectos são muitas vezes difíceis de quantificar”. Corroborando com a opinião de Klingemann, a artistas Anna Ridler afirma ver a inteligência artificial como um estimulador. Assim como a fotografia que modificou os retratos, mas ninguém deixou de pintar pessoas por conta deste avanço tecnológico.

Em suma, mesmo que programas como o GPT-3 possam produzir textos semelhantes aos humanos, isso não garente o fim de artistas e autores. E ainda devem ser encarados como formas de renovação e utilizados para uma possível reforma artística.

BIBLIOGRAFIA

A inteligência artificial pode ser considerada “dona” de uma obra? https://glicfas.com.br/inteligencia-artificial-dona-de-uma-obra/

GPT-3: a inteligência artificial mais poderosa já criada! https://blog.betrybe.com/tecnologia/gpt-3-inteligencia-artificial/

Morte do Autor, Roland Barthes (1968)

O que é um autor?, Michael Foucault (1969)

Mixed media photography

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“Mixed media photography” ou fotografia de meios mistos é um género artístico intermédio que, como tal, envolve a mistura diferentes meios criativos para criar uma obra que incorpora várias formas de arte. Os fotógrafos experimentam vários meios de forma a expandir a sua criatividade, mantendo-se fiel à base da fotografia.
Esta forma de expressão desenvolveu-se há décadas como prática experimentalista na fotografia. Os artistas que se dedicavam a este meio, recorriam à colagem em cima de outras imagens, à pintura diretamente em fotografias impressas, bordado e outras técnicas para adicionar ou alterar significado a uma fotografia.

https://pin.it/3GkJM9A 

Helena Almeida

Seja qual for o meio, estes fotógrafos estão a colmatar o fosso entre a fotografia e outras formas de expressão artística.

Tal como em todos os meios artísticos, também no cruzamento das várias artes, as práticas utilizadas se alteram e evolvem ao longo do tempo logo, a fotografia intermédia também foi mudando conforme a inserção de novas técnicas e novos meios.
Deste modo, existem muitos fotógrafos que estão agora também a expandir as suas técnicas e a usar novas formas de tecnologia para manipular as suas fotografias de uma forma que as distinga do resto. Isto pode incluir manipulação digital usando um tablet, ilustrações sobrepostas sobre as fotografias e colagens que fazem uso do digital pois este ambiente é muito menos restrito do que os meios convencionais neste tipo de manipulação. Assim, conseguem alcançar resultados únicos.

https://pin.it/5bAzunn

The Duality of Human Being Expressed By Pablo Thecuadro – IGNANT

Os meios de arte mista têm tudo a ver com desafiar os limites entre diferentes formas de arte e constantemente vemos artistas a inovar neste aspeto e oferecer algo de novo ao meio artístico, seja implementando artes têxteis em imagens digitais impressas ou a incluir estas artes visuais mistas em novas formas de arte em vídeo.

Maurizio Anzeri

Bibliografia:

Carville, J. (2022, julho 11). What is mixed media in photography? Photo Expressionist. https://www.photoexpressionist.com/what-is-mixed-media-in-photography/

The Duality of Human Being Expressed By Pablo Thecuadro. (2017, abril 21). IGNANT. https://www.ignant.com/2017/04/21/the-duality-of-human-being-expressed-by-pablo-thecuadro/

Visual experimentation in the avant-gard poetry – the coming of collage poetry

Avant-gard poetry in the twentieth century made experimental breakthroughs in imagery, grammar, diction, voice and modes of language, mainly within the framework of modernism. The beginning of poetic modernism pioneered a marginal experiment in poetry, namely the visual experiment in avant-gard poetry.

With the poets Hugo Ball and Tristan Tzara, as well as the artists Picabia and Duchamp, Dadaism began a cross-border experiment in avant-garde poetry in Zurich, Switzerland. The two initiators of Dadaism, Hugo Ball and Tristan Tzara, were both poets, but the acts they initiated actually went beyond poetry to involve performance, collage, installation, photography and other major modern forms throughout 20th century art. Hugo Ball’s first experiments with poetry in Zurich were sound-centred costume performances in which he invented a so-called ‘sound poetry’, consisting of a random patchwork of raw words, which he performed live in his tavern. In his own version of the Dada Manifesto, Ball declared, “All words are invented by others. I need something of my own, my own rhythm, vowels and consonants, to make the rhythm harmonious, my own.”

Another leader of Zurich Dada, the Romanian poet Tristan Tzara, has created a kind of ‘collage poetry’. Instead of writing the lines of his poems by hand, he cut out a line or large word from a newspaper and then collaged them randomly on a piece of white paper. Tzara describes his way of doing this, “Pick up a newspaper, take a pair of scissors, pick an article, cut it out, then cut out each word, put them in a bag, shake it …… and touch them out one by one, rejoin them together and spell out a poem that I don’t know what it is. ” This approach influenced post-war pop art, episodic art collage and randomism, and had an impact far beyond poetry. Breton, an early member of Dada and a leader of Surrealism, also experimented with the ‘collage poetry’ of newspaper clippings in the 1920s. Tzara’s Dadaist manifesto was in poetic form, but it was a novel experiment in typography, with different key words and sentences piled together in a variety of fonts and sizes.

The main form of poetry is text, but poetry as a printed text involves typography, fonts, colour and graphic relationships such as illustrations. Modernism lies to a large extent in an experimentation with elements and media, which give rise to collage peotry.

O papel do algorimo na descoberta artistica  

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Na era digital em que vivemos, os dispositivos tecnológicos e as redes sociais nas quais passamos grande parte do nosso tempo, definem as novas formas de produzir e apreciar arte.

Segundo Marshall McLuhan, em Understanding Media, 1994, o meio é a mensagem, o que significa que não apenas vemos ou assistimos conteúdo nos dispositivos tecnológicos, mas também que estes meios influenciam a nossa perceção desse conteúdo.

Nestas plataformas, existe agora um acesso mais facilitado, e praticamente imediato a uma quantidade imensa de conteúdo artístico. Vários artistas divulgam o seu trabalho através das redes sociais e sem esta fácil aproximação talvez não os conheceríamos, pois, um dos fatores que contribui para a descoberta artística nos novos média é o algoritmo implementado nestes meios através dos quais interagimos com arte, que organiza e sugere conteúdo para o utilizador.

Por exemplo, Ajay Kalia e Mathew Ogle são dois programadores do sistema de recomendação utilizado pelo Spotify que afirmam ter sido responsáveis pela introdução de 5 mil milhões de novas músicas nas listas de reprodução de usuários de mais de 60 países, num período de 11 meses (Conferências do festival Sonar, Barcelona, 2016).

Todas as redes sociais têm um algoritmo inserido na sua programação que é o que permite às empresas que gerem estas plataformas uma maior sensação de aproximação com os utilizadores. O seu principal objetivo é satisfazer os interesses dos mesmos, todos ficamos felizes quando abrimos o Twitter e o primeiro post que aparece está relacionado a uma série de que gostamos ou quando carregamos “aleatório” no Spotify e a primeira música é exatamente aquela que queríamos ouvir.

No entanto, este processo pode custar a independência do consumidor e criar um certo efeito de bolha, em que o sujeito vai apenas encontrar conteúdo relacionado ou do mesmo carácter de outros conteúdos com os quais interagiu e que o algoritmo considere do seu interesse, nunca descobrindo algo realmente novo.

Isto vai criar um consumidor passivo, um consumidor de arte que pensa menos no artista ou na peça que lhe é apresentada, e em vez de uma arte que deve ser apreciada com atenção e cuidado, muitas vezes torna-se num mero “pano de fundo” do quotidiano.

É necessário portanto, saber interagir com os novos meios de um modo consciente, de forma a puder desfrutar da enorme possibilidade de descoberta artística, sem se deixar ser “dominado” por este efeito causado pelos meios digitais e não desvalorizar a arte simplesmente pela sua inevitável reprodutividade na era atual.

Bibliografia

Costa, M. V. da. (2016). Algoritmos contra humanos. Quem lhe recomenda a melhor música? Observador de https://observador.pt/2016/06/20/algoritmos-contra-humanos-quem-lhe-recomenda-a-melhor-musica/.

McLuhan, M. (1964). Understanding Media

Experimentalismo nos Jogos

 Já é mais do que normal considerar os vídeos jogos um material artístico, por isso nesse pequeno texto eu tenho como objetivo interligar o experimentalismo com o mundo dos jogos.

 E não há como falar sobre isso sem mencionar um nome muito famoso na industria dos vídeos jogos, e esse nome é Hideo Kojima. Hideo Kojima é considerado por muitos como o pai do género de jogos de stealth, através da franquia de jogos Metal Gear ele foi capaz de criar todo um novo género que foi crescendo conforme os anos foram passando e acabou por ser algo bastante presente na industria dos jogos. Hideo Kojima sempre foi um designer com ideias muito pessoais, o seu primeiro grande projeto Metal Gear revolucionou a industria e mudou a maneira de como se pensa e faz vídeos jogos. E ele continuou a repetir esse feito conforme o seu catálogo de jogos produzidos ia expandindo. Ele prezava a liberdade do jogador acima de tudo, de dar mil e uma maneiras de jogar o jogo e criar uma experiencia única para cada um dos jogadores. Atualmente ele é o diretor e CEO da Kojima Productions (fundada pelo próprio) tendo já desenvolvido um grande projeto conhecido Death Stranding, um novo tipo de jogo na qual Kojima intitulou como Strand type game.

HIDEO KOJIMA
Hideo Kojima

Mas não foi só Hideo Kojima que foi contra o normal e criou algo novo, um género bastante interessante dentro da industria é o Indie, Indie vem de Independente e por isso um jogo Indie é um jogo que vem de uma produtora fora dos grandes colossos da industria, normalmente esses jogos tem uma equipa bastante reduzida de pessoas a trabalhar no jogo, por vezes chega só a ser uma única pessoa a trabalhar no jogo, e muitos jogos independentes ao serem criados revolucionaram a industria com o seu sucesso e por causa disso criaram muitos mais jogos que partilhavam das mesmas ideias. A série de jogos de terror Outlast é um bom exemplo disso, um simples jogo de terror criado por uma pequena equipa acabou por influenciar através das suas ideias toda uma década de jogos do mesmo género.

Equipa por detrás de Outlast

Por isso é que  o experimentalismo está muito presente na industria dos jogos, todos os anos novos jogos que criam algo original e fora do comum acabam por influenciar novas criações e o circulo continua sem um fim à vista, se bem conforme os anos foram passando essa originalidade e coragem de criar algo fora do comum foi diminuindo, mas nunca desapareceu.

Arte por correspondência

E se o já quase obsoleto sistema de correio fosse de repente invadido, não por encomendas e cartas meramente burocráticas, mas por pequenas peças de arte? Nos Estados Unidos da década de 1970 isto de facto aconteceu. Influenciados por movimentos artísticos como o dadaísmo e o Fluxus, vários artistas aderiram ao movimento Mail Art, em português Arte Postal. Entre estes, o nome mais relevante é, possivelmente, o de Ray Johnson, que em meados dos anos 50 iniciou a prática de deliberadamente enviar arte a amigos e colegas tomando como meio a própria correspondência. Foi capaz de expandir o movimento quando em 1958 começou a deixar instruções específicas aos seus remetentes sobre a quem deveriam enviar o próximo objeto de arte, escrevendo “Please send to…”. Este movimento artístico, apesar de ser mais obscuro devido ao seu cariz privado, anteviu várias figuras relevantes da Pop Art, nomeadamente Andy Warhol.

Frequentemente escrito de forma incorreta, o grupo The New York Correspondance School era, acima de tudo, uma de rejeição ao snobismo e exclusividade que a arte de galerias exigia. Ao contrário da pintura convencional, a arte postal é mais elusiva quanto aos materiais utilizados, podendo tomar forma de tudo aquilo que é possível enviar por correio. Desde postais, aos próprios selos onde vinham as cartas, passando por pequenos objetos que atendessem à categoria de correspondência, nada estava fora do alcance dos artistas.

Assim, peças de artes não ficavam enclausuradas nas quatro paredes de um museu, mas antes iam parar à porta da casa das pessoas. Era morte da ideia do ícone e da obsessiva perseveração das obras de arte presente na cultura Ocidental. Nas palavras do próprio Ray Johnson: Mail Art is not a square, a rectangle, or a photo, or a book, or a slide. It is a river.

Bibliografia

Ray Johnson Estate. Acedido a 29 de Outubro de 2022, em: https://www.rayjohnsonestate.com/

A Mediação Musical no Experimentalismo: John Cage

A corrente do Experimentalismo, trouxe a todas a artes uma corrente de questionamento, não só sobre a própria arte, mas sobre os seus meios. Este questionamento passou muito por pôr em causa a definição e os limites da arte, mas também sobre o papel do espectador na construção de significados de uma obra, e na música não foi diferente.

Na música, a mediação que é feita entre o ouvinte e a obra, é marcadamente diferente daquela que é feita nas outras artes. Na música, ao contrário das artes plásticas, para o ouvinte ter acesso à obra, é necessário haver um intermediário que interprete a obra que está escrita na partitura, aqui esse intermediário não é apenas o, ou os instrumentos para os quais a obra foi escrita, é necessário que alguém os toque. Na pintura, não há um intermediário entre o espectador e a obra, o espectador tem contacto direto com o material artístico produzido pelo autor. Este assunto, no mundo musical levanta um leque de questões sobre se o que ouvimos é realmente a obra original, ou se será sempre uma interpretação de um original ao qual nunca teremos verdadeiro acesso.

John Cage é o artista musical, por excelência, no Experimentalismo. Cage desenvolve, e leva a cabo estas questões do Experimentalismo na música, por isso, vale a pena analisar a questão da mediação quando falamos de Cage, especialmente quando falamos da obra 4’33’’. Como referi, a mediação musical é feita através de um músico que interpreta a obra. Na obra 4’33’’, a obra é o silêncio (os músicos não tocam), mas nunca o silêncio absoluto. Aqui se coloca a grande questão: “Como se interpreta o silêncio?”, como é que fazemos a mediação do nada? Para além da questão da primazia dos sons do quotidiano que está marcadamente presente na obra de Cage, entra aqui um outro conceito, de Marshall McLuhan: “O meio é a mensagem”.

Ora, para Cage, um seguidor da filosofia Zen, o silêncio era uma ferramenta que o permitia, em termos musicais, chegar ao espectador, não só, com o intuito de criar um significado universal, no sentido em que, se não houver um significado à partida qualquer pessoa pode criar o seu; atingindo simultaneamente o objetivo de provocar um questionamento sobre o que pode ser música. Assim, é através do silêncio que, no sentido mais restrito do termo, não “diz” nada, que Cage faz com que a sua mensagem se funda, na totalidade, com o meio através do qual é expressa.

Assim, é através desta capacidade autorreflexiva e ainda volátil do silêncio e da significação que pode produzir (em termos musicais), que o silêncio assume, não só o papel de meio, para transmitir uma mensagem, mas o papel da própria mensagem que provoca significados múltiplos, e por isso, comporta ainda, um significado universal, não estabelecido à partida.

“I have nothing to say and I’m saying it.” – John Cage, “Lecture on Nothing” (1959)

Partitura com os três andamentos da obra. Tacet – significa silêncio, indica que um instrumento não toca (neste caso todos os instrumentistas teriam esta partitura).

Bibliografia:

  • “Understanding Media: The Extensions of Man” de Marshall McLuhan.

A Arte Inesperada

Se eu te perguntar para pensar em obras de arte, quais imagens vem a sua cabeça? Para a maioria das pessoas vem as grandes obras do mundo, “Monalisa”, “O Grito”, “A Noite Estrelada”. Essas obras são conhecidas por uma grande maioria das pessoas que fazem parte da cultura ocidental. Mas são essas obras aquilo que define o que é arte? A maior discussão no mundo da arte sempre foi a pergunta “O que é arte?”. Jorge Coli, professor titular em História da Arte e da História da Cultura, no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp, diz que “Se buscarmos uma resposta clara e definitiva, decepcionamo-nos: elas são divergentes, contraditórias, além de frequentemente se pretenderem exclusivas, propondo-se uma solução única”.

Se não existe uma definição certa para o que é arte então podemos entrar na conclusão que as vezes nos podemos fazer “arte acidental” mesmo que não seja nossa intenção nós criamos uma peça artística. Um exemplo interessante disso seriam os recentes protestos, da qual são jogadas comidas nos quadros como uma forma de protesto e partes do corpo são coladas na parede e as vezes até no próprio quadro, eles tem com objetivo chamar atenção para a crise ambiental.

Algo que não foi feito com a intenção de criar arte pode ser arte? Ou arte só pode ser feita quando a uma intenção artística? Um dos objetivos da arte é fazer o público sentir algo, pois arte é um media, uma forma de passar informação. A arte pode fazer o público sentir algo que o artista não esperava ou não queria que fosse sentido, mas quando o artista termina a arte e a disponibiliza ao público ele perde (até um certo ponto) o controle do que é pensado e feito com sua arte.

 Seguindo este pensamento, estes protestos, e muitos outros, podem sim serem vistos como arte. Eles nos trazem emoções e nos fazem pensar, existe até uma singela beleza neles e mesmo sem tentar os protestantes fizeram arte e de certa forma até um movimento artístico.

Bibliografia:

COLI, Jorge. O QUE É ARTE. São Paulo: [s. n.], 1981. Disponível em: https://books.google.com.br/. Acesso em: 28 out. 2022

A incerteza do que pensar no Experimentalismo

Barthes é um escritor francês do século XX que apoiava a teoria da “morte do autor”; teoria essa que se torna o destaque temático do livro que publicou em 1967.

A imagem 1 corresponde a uma obra de Fernando Aguiar em exposição na Casa da Escrita na cidade de Coimbra, que se enquadra na corrente artística conhecida como Experimentalismo.

Figura 1:Obra de Fernando Aguiar

O que é que estes dois tópicos têm em comum ou até que ponto podem ser interligados? Até ao dia 24 de outubro ( data da visita à exposição) eu também não veria  qualquer ligação, contudo, após uma breve reflexão a junção de ambos levantou-me algumas questões.

Ora, a ideia do experimentalismo é a de fazer obras diferentes que choquem pela negação das regras a que “estavam sujeitas “ os trabalhos  artísticos na altura.

Tendo em atenção esta resumida definição, é muito fácil perceber o meu espanto, admiração e até diria breve irritação ao ver exposto um conjunto de capas de livros sem as suas páginas.

A ideia de ver um conjunto de capas rasgadas das suas folhas que continham histórias que consideramos clássicas fez-me pensar fez-me pensar no quão frágeis e não imaculadas são as regras e obras em questão.

Mas não foi só isso que me chamou à atenção! Do lado direito da obra estava uma placa que continha a identificação do autor, porém, e juntando agora a teoria da morte do autor, será que faz sentido atribuir autoria a Fernando Aguiar ?

É aqui que entra a obra de Barthes, na medida em que esta descredibiliza a imagem de Autor, algo que nesta situação me parece possível, já que o que cria aquele trabalho são um conjunto de obras de outros autores.  Porém, até que ponto é que essa atitude não é errada tendo em ente o experimentalismo.

Esta confusão e inquietação de pensamento é a atitude perfeita procurada pelo experimentalismo, portanto acho que posso confirmar que, não interessa muito a quem atribuo a autoria ou até se o faço, interessa mais o tempo que passo a pensar sobre o assunto e a obra.

A arte como instrumento político

Um dos princípios da arte é a expressão; arte é uma forma de passarmos uma mensagem de forma livre, sem regras. Aliás, este é um dos direitos do homem, o direito de nos expressarmos livremente através de expressões artísticas. O que acontece quando essa forma de expressão é interrompida, limitada ou manipulada?

O que pode acontecer é, por exemplo, uma entidade superior censurar a dita expressão artística, desde a literatura, ao cinema, à literatura, etc. Obras são avaliadas e filtradas podendo assim selecionar o que sai e o que é exprimido. A censura na arte e nos media ocorre quando existe, por norma, conflitos de interesse. Há casos famosos de censura, desde a Alemanha Nazi na Segunda Guerra Mundial ao Portugal de Salazar. O governo de Hitler e António Salazar manipulavam nos media aquilo que era transmitido do ponto de vista artístico.

O ex-presidente e ex-primeiro-ministro de Portugal filtrava e censurava o conteúdo de jornais, rádios, cinema, teatro, etc. Fora esta censura tão impactante, que tornou famoso o termo ”lápis azul” que servia para selecionar porções de texto que, aquando considerados impróprios, eram cortados de obras escritas, desde jornais a livros. Todo o texto considerado inadequado era removido e/ou substituído. Porém, normalmente, os livros eram apenas removidos, pois não possuíam avaliação prévia.

exemplo de um artigo ‘vítima’ do famoso ”lápis azul”

Hitler, na sua ditadura tomou posse de jornais anti-nazis, selecionou quais artigos e notícias apareciam nos jornais e rádio, baniu e queimou livros, e moderava o conteúdo das cartas escritas pelos soldados alemães. Glorificou-se, através dos media, do cinema por exemplo, a figura do ditador alemão, e denegriu-se a imagem dos judeus e da sua cultura utilizando a linguagem artística como veículo. A Alemanha Nazi é, também, conhecida por ter produzido filmes repletos de propaganda nazi, que tinham como objetivo inserir nos cidadãos alemães os princípios estabelecidos por Adolf Hitler.

Vemos então que a censura pode ser uma ameaça à liberdade expressiva do artista, como podemos combater esta coação? Investir numa educação para educar os artistas sobre os seus direitos perante a justiça seria uma boa forma de fazer frente a esta problemática. Um artista, ao debruçar-se sobre uma obra, está apenas a exercer o seu direito de liberdade de expressão e este deve reconhecer isso. Este não é um criminoso. É um membro da sociedade e precisa ser educado sobre o seu papel social, o seu impacto e a sua influência sobre os demais. A arte tem o poder de imortalizar momentos, e certos círculos de pessoas (poderosas) vêm isso como uma ameaça.

O artista, tendo completo conhecimento disso, estando educado daquilo que tem o direito de fazer e do que pode atingir, pode defender-se como mais um cidadão que possui um papel na sociedade.

Bibliografia:

https://jornal.usp.br/atualidades/censura-as-artes-nao-e-nova-na-historia-e-vai-alem-de-ditaduras/ 29/10/22 – 19h57

https://agendadeemergencia.laut.org.br/liberdade-artistica/o-que-e-liberdade-artistica-e-censura/ 28/10/22 – 23h39

https://pt.wikipedia.org/wiki/Censura_em_Portugal 29/10/22 – 20h56

https://encyclopedia.ushmm.org/content/pt-br/article/nazi-propaganda-and-censorship 29/10/22 – 22h34

Influências da arte na moda

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Tanto a moda quanto a arte têm histórias que querem transmitir ao seu público, ambas sempre foram sobre expressão. Nas últimas décadas, vimos designers de moda a utilizarem ideias de movimentos artísticos e a apresentá-las nas passarelas.

Em 1937, a estilista italiana Elsa Schiaparelli colaborou com o pintor surrealista espanhol Salvador Dalí. Ele desenhou o design de lagosta que seria incorporado ao tecido do vestido de organza de seda de Schiaparelli. Sendo um momento icônico na moda, o vestido não pertence a ninguém em específico, ao invés, o vestido encontra-se no Museu de Arte da Filadélfia.

Vestido de lagosta de Schiaparelli e Dalí

E em 1951, outro momento histórico aconteceu, uma colaboração entre o renomado pintor expressionista, Jackson Pollock, e Cecil Beaton. A coleção teve uma reportagem de três páginas na revista Vogue e foi nomeada “The New Soft Look”.

Jackson Pollock x Cecil Beaton

Em 1966, o estilista Paco Rabanne criou “Twelve Unwearable Dresses in Contemporary Materials”, uma coleção de alta-costura que não envolvia tecido, mas foi feita inteiramente por peças estruturadas com placas de alumínio, metal e plástico. Ele foi influenciado pelos movimentos surrealista e dadaísta, e modificou o convencional ao descartar os tecidos tradicionais e os kits de costuras.

Paco Rabanne “Twealve Unwearable Dresses in Contemporary Materials”

Em 1965, os vestidos de coquetel de Yves Saint Laurent, inspirados na composição de 1921 de Piet Mondrian com vermelho, verde e azul, tornaram-se um dos melhores exemplos de moda artística. E em 2012, as designers americanas Kate e Laura Mulleavy usaram pinturas de Vincent van Gogh como inspiração para sua coleção de primavera. Os tecidos dos vestidos imitavam a paleta de cores amplamente conhecidas de Van Gogh.

Yves Saint Laurent x Piet Mondrian
Kate e Laura Mulleavy x Vincent Van Gogh

A moda e a arte há muito estão unidas por seu fascínio, pela experimentação e inovação. Ao longo das décadas, não só vimos designers de moda inspirados em obras de arte icônicas, como também observamos como os costureiros misturam as disciplinas usando ferramentas e técnicas normalmente encontradas em estúdios de arte para criar roupas.

Portanto, ambos meios estão constantemente referenciando-se. Focados em expandir seus públicos, ambos ultrapassam os limites – tornando os dois setores aliados automáticos.

webgrafia:

https://www.tandfonline.com/doi/full/10.1080/14702029.2021.1940454

Eduardo Kac e a Rara Avis

Eduardo Kac, um dos pioneiros da arte das telecomunicações durante a década de 80 e 90, ficou conhecido pela criação de obras mais radicais envolvendo telerobótica e organismos vivos.

O seu sucesso tem sido visível ao longo dos anos visto que as suas obras são expostas em locais onde a arte é extremamente valorizada. Locais como Nova Iorque (Ronald Feldman Fine Arts, Exit art); Paris (Maison Européenne de la Photographie); Xangai (Zendai Museum of Modern Art), entre outros.

Antes de falar um pouco sobre a obra que captou a minha atenção, vou deixar um pequeno vídeo que consiste numa revisão de oito obras de Eduardo Kac, com o mesmo a explicar cada uma delas.

Rara Avis é um trabalho interativo de telepresença, um pouco invulgar, mas extremamente revolucionário para a tecnologia visto que foi concebido em 1996

Este trabalho consiste no visionamento de um grande aviário com 30 aves, mas do ponto de vista de uma ave telerobótica.

O participante entrava numa sala com um grande aviário, logo de seguida deparava-se com óculos de realidade virtual, e quando os colocava entrava no “corpo” da ave telerobótica, e a partir daí, o participante de certa forma é teletransportado para dentro do aviário.

Estas obras tinham sempre um significado mais profundo, e neste caso, não é diferente.

De acordo com Eduardo Kac, esta obra apresenta uma crítica à noção de “exotismo”, um conceito que fala sobre a relatividade dos contextos e a consciência limitada do observador.

Rara Avis esteve exposta entre 28 de junho e 24 de agosto de 1996 no Nexus Contemporary Art Center, em Atlanta, e também esteve exposta online.

Bibliografia.

https://www.ekac.org/kacbioresumida.html

https://www.escritoriodearte.com/artista/eduardo-kac

Dada Feminina

Recortes. Pedaços. Unidos. Sem sentido. Desordem. Caos. Assim é a colagem. Assim é o dadaísmo.

O dadaísmo foi uma corrente artística sem regras, onde, ao acaso, se combinavam palavras, letras, sílabas, cores, materiais, sons e movimentos. Hannah Höch foi uma das artistas mais importantes deste movimento que se focou maioritriamente na fotomontagem.

Esta imagem tem um texto alternativo em branco, o nome da imagem é image-18.png
Hannah Höch, 
cortando com a faca de cozinha Dada através da era tardia da cultura da barriga de cerveja da Alemanha de Weimar , 1920

Em adição aos problemas que artistas masculinos retratavam no dadaísmo como a guerra, a burguesia e a igreja, Hannah Höch retratou nas suas obras de forma prudente e vanguardista temas como a androginia, a “nova mulher” alemã e o discurso político patriarcal. A excentricidade desta artista demonstra-se e comprova-se na obra acima apresentada, pela complexidade e diversidade de imagens apresentadas desde palavras, retratos, partes de motores, maquinaria e, ainda, paisagem citadina. As cores dominantes são as do papel envelhecido, mas chama a atenção uma faixa azul no canto superior esquerdo.

Nas suas fotomontagens, Höch disseca imagens dessa nova mulher para recompô-las através de seu olhar transformador. Para isso, ela usa imagens de mulheres que se destacaram em diferentes mídias como a dança, cinema, teatro, cabré, política, feminismo ou arte. Usa principalmente partes de seus corpos relacionadas ao fetichismo, como os olhos, a boca ou as pernas. Também é comum em suas obras a combinação desses elementos com outras partes do corpo masculino, criando seres híbridos sem gênero específico.

Esta imagem tem um texto alternativo em branco, o nome da imagem é image-20.png
Hanna Höch, 
A Garota Bonita , 1920


O trabalho de Hanna Höch tem a capacidade de colocar em questão padrões pré-estabelecidos, apresenta-se como uma vanguardista dentro do movimento sufragista alemão e, tem também, como uma inteligência que não pode tocar de maneira indiferente a espectadora/ o espectador. Ensina-nos que para descontruir legados passados e enraizados de forma quase permanente, é necessário criar o caótico, o incomptível que cria sentido no não-sentido. Ensina através do seu exemplo a outras mulheres, que o poder também está nas nossas mãos e nos materiais que têm disponíveis no seu dia-a-dia, pois essa é uma característica fulcral no dadaísmo, a utilização de materiais comuns para realizar obras de arte.



Sitografia:

https://www.moma.org/artists/2675

O Espaço do Autor na sua Obra

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Desde do Renascimento até ao século XVIII começou a tecer-se um caminho em direção a glorificação do autor e analogia da sua vida em relação á obra. Esta característica é transversal as várias artes. No cinema, o conceito de autor foi diversas vezes debatido, sendo uma arte de grupo, com argumentistas, realizadores, atores, editores e outros técnicos. A partir de 1940, realizadores e argumentistas discutiram esta questão. Uns defendiam que seria o argumentista, outros os realizadores, entre estes Bazin, que foi fundador da revista Cahiers du Cinéma onde pode fomentar esta ideia. Para se ter uma perceção melhor deste debate peguemos num exemplo prático: “O Despertar da Mente” é um filme realizado por Michel Gondry e o argumentista Charlie Kaufman, na época de lançamento nacional deste filme devido ao preconceito contra o realizador pois estava na área de clips pop e publicidade, muita gente achava que a obra era mais de Kaufman do que de Gondry. Para surpresa, passado alguns anos Charlie Kaufman realizou um filme e a crítica foi no sentido oposto – filme de argumentista, “falta” de realização.

Na arte de imagens em movimento, esta questão tem uma maior polaridade. O conhecimento do autor dá ao crítico, um benefício, um maior leque de justificações e razões de ser da obra e por isso lemos “…criticismo still consists for the most part in saying that Baudelaire’s work is the failure of Baudelaire the man, Van Gogh’s his madness, Tchaikovsky’s his vice…” (Roland Barthes, The Death of the Author, 1977, p.143).

Com isto, questiono-me será que Francisco Goya teria pintado a série de “Los Desatres de la Guerra” se nunca tivesse experienciado em si os horrores da guerra?

Goya F. (1810-1815) Los Desastres de La Guerra (Série de Gravuras), Ya no hay tiempo. Art & Gallery News (2019, Janeiro, 9) A Closer Look at Francisco Goya’s ‘Disasters of War’ (Los Desastres de la Guerra), Park West Gallery.

Barthes, R. (1977) The Death of the Autor, London: Fontana Press.

Silvestre, O. (2021) Análise e Crítica de Filmes, FLUC.

Branco, S. (2021) História e Estética do Cinema II, FLUC.

Gondry M. (Director). (2004) O Despertar da Mente [Film]. Focus Features (Produtora). Universal Studios (Distribuidora).

Goya F. (1810-1815) Los Desastres de La Guerra (Série de Gravuras), Ya no hay tiempo.

Andy Warhol e o experimentar das várias formas de arte

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Desde a pintura, que é por onde é mais conhecido, até ao cinema e á fotografia, Andy Warhol foi um artista intermédia.

Ao realizar cerca de 600 filmes entre 1963 e 1976, Warhol também criou um projeto que juntou várias formas de arte, em 1967,  denominado de Exploding Plastic Inevitable (EPI).

Performances ao vivo da banda The Velvet Underground and Nico com uma projeção de luzes e corpos em movimento era o objetivo do EPI.

A dança juntava-se assim a uma seleção de filmes do próprio Andy Warhol projetados paralelamente ás interpretações da banda fundada por John Cale e de diversos performistas regulares no estúdio de Warhol (Factory), tais como Mary Woronov e Gerard Malanga.

Todas estas formas artísticas culminavam, e projetavam para o público uma experiência sensorial da live performance art.

Exploding Plastic Inevitable com The Velvet Underground and Nico


As misturas do corpo, da voz, do toque geraram esta performance.  

Focando-se no meio que podia moldar e fundir as várias formas de arte, Andy Warhol criou, a meu ver, um novo género artístico, que quebrou todas as barreiras da arte até ao momento.

Ainda na vertente multimédia, Andy Warhol, em meados da década de 80, desenvolveu vários desenhos num antigo computador Commodore Amiga. Produziu uma série de imagens, esboços e manipulações de fotos que, ao longo de 30 anos, ficaram completamente esquecidas no tempo.

As obras não passam de rabiscos, manipulações de fotos e releituras de obras famosas do próprio artista, como é o caso da emblemática lata de sopa Campbell.

Quando o artista da Pop-Art foi chamado para fazer uma publicidade para este computador, em 1985, ele mudou completamente aquilo que haviam designado como arte.

Warhol influenciou a que outros pudessem experimentar. Era um autor da sua própria arte. Um artista avant-garde que abraçou o termo mixmedia nos seus projetos.


Bibliografia

https://www.wikiwand.com/en/Exploding_Plastic_Inevitable

https://epoca.oglobo.globo.com/vida/noticia/2014/04/bobras-digitais-perdidasb-de-andy-warhol.html

Protesto ou a maior prank de sempre?

Imaginem estarem sentados no sofá a ver televisão e de repente o que estão a ver é interrompido por uma imagem arrepiante de uma figura que parece um boneco? Então isto aconteceu em novembro de 1987 com os espetadores de dois canais televisivos americanos, o WGN-TV e o WTTW.

No canal WGN-TV estava a passar um segmento de notícias quando de um momento para o outro o ecrã fica preto e aparece uma figura com uma máscara de borracha e de óculos de sol que se parecia com uma celebridade da pop culture americana dos anos 80, Max Headroom. Sem áudio e com uma duração de segundos, a figura apenas balançava enquanto sorria.

O segundo incidente deu-se no segundo canal referido, os espetadores estavam a ver um episódio de Doctor Who quando a figura aparece novamente, desta vez durante mais tempo e com áudio.

Os espetadores caracterizaram estes dois ataques como arrepiantes, mas cómicos ao mesmo tempo. Outros, claro, ficaram chateados pois o episódio da sua série favorita foi interrompido.

Existe um elemento de mistério associado a estes incidentes pois as suas intenções são até hoje desconhecidas tal como o autor. Muitos especulam que terá sido um protesto de alguém que trabalhava nos canais pela forma como estes eram geridos, mas nada se sabe ao certo.

Também não há uma mensagem clara, a personagem é sarcástica, ridiculiza aspetos da cultura americana e menciona séries e anúncios de televisão da época. Então, a interpretação cabe a cada um que veja os clips destas interrupções televisas.

O que se sabe de facto, é que passados 34 anos este incidente continua a ter relevância e o autor certamente não antevia que passados tantos anos esta sua prank continuasse a ser discutida.

Bibliografia:

Serena, Katie. “The Story of America’s Creepiest Unsolved TV Hack.” All That’s Interesting. 25 May 2021, allthatsinteresting.com/max-headroom-incident.

LEVAR TUDO À LETRA

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LEVAR TUDO À LETRA
Experimentar com o meio

Tap, Tap, Tap, Tap, Tap. Parando só de quando a quando para ajeitar thick fringes, daquelas que se armavam com muita laca, a classe feminina de técnica comercial do St. Joseph’s College faz original proveito da sua máquina de escrever. Sim, que certa manhã não caíram as alunas da prestigiada instituição britânica na mesmice cautelosa da transcrição de manuscritos (que calhava não raras vezes os dedos donzelos serem traídos pela alta velocidade e o tipo imprimir o caractere indevido!) – agora, em aleatória maravilha, elas seriam eficientes retratistas!
E quem diria que, quase setenta anos volvidos, Cathy Dalton havia de encontrar, perdida no seu sótão, entre tantos outros artefactos, essa memória experimental que em dezembro de 1955, vergando grafia à criação artística, faria expirar a semântica, a sintaxe, a morfologia, a pragmática, a fonética e até a fonologia… Ora, é que servindo-se da linguagem como mero “ato performativo”[1], o achado de baú vem confirmar senão a ideia magna de “A Morte do Autor”(1968), pérola da filosofia moderna na qual Roland Barthes, sustentado nos subsídios da crítica literária, defende a importância da matéria escrita sobre a intencionalidade do sujeito que a produz, votando o leitor ao novo soberano da literata, ele, “o homem sem história, sem biografia, sem psicologia, que tem reunidos num mesmo campo todos os traços que constituem o escrito”[2]. Quer isto dizer, ainda que não negando a existência de uma autoria- veja-se, no caso, a dona da máquina como o “homem físico” barthiniano-, a verdade é que este inusitado aproveitamento da datilografia recusará, no entanto, a presença do agente criador como a “chave” que decifra o signo linguístico, ao espetador antes outorgada a responsabilidade de saber querer tomar literais os grafemas, percebê-los despojados da sua função primária, ao jaez de puro suporte criativo. Ou, por outra, produto do sobe e desce fortuito de teclas metálicas, a sortida reunião alfabética de Dalton e das suas companheiras, totalmente alheada da comunicação verbal, nada mais pretende que formar blocos das várias gamas que tem o cinza, quando ao longe vista tornada sagração a preto e branco do rosto de Isabel II, por ora recém-coroada rainha…

A quem queira apreciar a relíquia da antiga aprendiz de St.Joseph’s à luz do “O que quis o autor dizer nas suas linhas?”, lhe digo, portanto, que evite gastar o seu tempo, nas boas vivas à miopia, com três neurónios do hemisfério esquerdo [3] quase em combustão. Pois terá, com licença, que me desculpar o mais popular, mas, citando pela última vez o francês, “uma vez o autor afastado, a pretensão de «decifrar» um texto tornou-se já inútil”[4], e, dessarte, sensato talvez aqui seja aquele da taxa nunca arreganhada, que leva tudo, tudo, mesmo tudo, à letra.

Em cima, Cathy Dalton mostra o retrato que terá feito em contexto de sala de aula, recorrendo exclusivamente à sua máquina de escrever. Em baixo, por sua vez, um grande plano dessa obra que tenta representar a rainha Isabel II, aqui poeticamente emoldurada pelas mãos engelhadas da sua já octogenária autora. (Ambas a fotografias são da câmara de Warren Buckland e formam a secção imagética de “Haw’s Bay Today: Queen Elizabeth death: Hastings woman plans to frame portrait of monarch she created with typewriter”, artigo do jornal eletrónico New Zealand Herald, disponível na íntegra em https://www.nzherald.co.nz/hawkes-bay-today/news/queen-elizabeth-death-hastings-woman-plans-to-frame-portrait-of-monarch-she-created-with-typewriter/RA6CCKMKYBW2FGC45I7PNG5AKU/ (a saber, consultado no dia 28 de outubro de 2022).)

[1] C’est que (ou il s’ensuit que) écrire ne peut plus designer une opération d’enregistrement, de constatation, de représentation, de “peinture” (comme disaient les Classiques), mais bien ce que les linguistes, à la suite de la philosophie orxfordienne, appellent un performatif, forme verbale rare (exclusivement donnée a`la primière personne et au présent), dans laquelle l’énonciation n’a d’autre contenu (d’autre énoncé) que l’acte par lequel elle se profere. (BARTHES, 1968, p.64.l.18-24.)

[2] “[…] le lecteur est un homme sans histoire, sans biographie, sans psychologie; il est seulement c’est quelqu’un qui tient rassemblées dans un même champ toutes les traces dont est constitué l’écrit.” (BARTHES, 1968, p.67. l.1-3.)

[3] Alusão ao hemisfério esquerdo do cérebro humano, do qual depende predominantemente a linguagem na maioria dos indivíduos. Com efeito, estudos recentes apontarão para que, em cerca de 96% da população mundial, dele dependam todas as funções ligadas à gramática, ao vocabulário e à construção de sistemas fonológicos. (GJERLOW, K. OBLER, L.K, 2002, p.23, l.8-10.)

[4]”L’Auteur une fois éloigné, la prétention de «déchiffrer» devient tout à fait inutile.”.(BARTHES, 1968, p.65, l.28-30.)

Bibliografia

BARTHES, R. (1968). La mort de l’auteur, Manteia, no. 5: 12-16. (O documento terá sido disponibilizado pela docente da unidade curricular na plataforma UCStudent> Arte e Multimédia > Materiais>Tópico 2. Experimentar com o Meio> 1_barthes_morte_autor_en_fr.pdf. )

GJERLOW, K. OBLER, L.K (2002). A Linguagem e o Cérebro. Instituto Piaget: Lisboa.

Sitografia

BUCKLAND, W. (2022, 12 de setembro, 01:55 AM). Hawke’s Bay Today: Queen Elizabeth death: Hastings woman plans to frame portrait of monarch she created with typewriter https://www.nzherald.co.nz/hawkes-bay-today/news/queen-elizabeth-death-hastings-woman-plans-to-frame-portrait-of-monarch-she-created-with-typewriter/RA6CCKMKYBW2FGC45I7PNG5AKU/

“Ilhas Cercadas” de Christo e Jeanne-Claude

A Instalação é uma forma de arte em que amplia ambientes em cenários de tamanhos de salas. A pintura, a escultura entre outros meios são usados para realçar o espaço arquitetônico.

A Instalação pode só existir na hora como pode ser mostrada e recriada noutro local. Diferente de uma pintura, a intervenção do artista não é nítida. 

O objetivo do artista ao produzir a sua obra é a própria essência da mesma. A Instalação tinha a necessidade de mexer com os sentidos do público, quase como obrigá-lo a experimentar sensações. 

Artistas que podem ser destacados na Instalação são Christo e a sua mulher Jeanne-Claude.

Uma das características das obras deste casal é chamar a atenção para algo que esteja no ambiente. Por exemplo, nas obras de embrulho, como a obra das “Ilhas Cercadas”, eles isolam a paisagem precisamente para fazer com que o público note a presença da mesma. 

A 7 de maio de 1983, por apenas duas semanas, o casal cercou 11 ilhas, na Baía da Biscaia, em Miami, com, aproximadamente, 600 mil metros quadrados de tecido rosa tapando a superfície da água em mais de 50 metros à volta de casa ilha. O projeto aconteceu em maio de 1983, mas já em 1981 havia pessoas a trabalhar neste projeto.

Durante estas duas semanas, as Ilhas Cercadas foram vistas, abordadas e desfrutadas pelo público, das estradas, da terra, da água e até do ar.  Foram costurados 79 padrões para o tecido seguir os contornos das 11 ilhas.

O casal foi quem financiou o projeto inteiro, quer através da venda de obras prévias quer de desenhos e colagens do projeto. Eles não aceitaram nenhum patrocínio  Para este projeto ser aprovado foram necessárias várias licenças.

https://www.cklein.com.br/ilhas-cercadas-o-projeto-que-mudou-miami-para-sempre/

https://www.historiadasartes.com/nomundo/arte-seculo-20/instalacao/

https://magg.sapo.pt/cultura/artigos/foi-ha-36-anos-que-11-ilhas-ficaram-cor-de-rosa

Dialtones (A Telesymphony)

E se você e o seu telemóvel pudessem contribuir e fazer parte de uma sinfonia eletrónica?  A boa noticia é que isso é possível!

Dialtones (A Telesymphony) consiste em um concerto onde a musica produzida e apresentada provêm unicamente através do toque dos telemóveis da própria plateia. Os 200 telemóveis, previamente programados a partir do registo dos seus números de telemóvel numa plataforma web, são lhes atribuídos uma serie de novos ringtones e de seguida o bilhete com o respetivo assento, este escolhido também de forma meticulosa.

Com o lugar exato e ringtons designados de cada telemóvel, utilizando um software especializado e apelidado de “instrumento software” foi possível reproduzir novos e únicos efeitos sonoros, acordes e melodias acompanhadas de projeções, tornado o concerto numa experiencia bastante imersiva. Os performers em palco serviam como maestros da “orquestra eletrónica“, dirigindo e dando ordens ao dialing os números de telemóvel numa sequencia musical gerada pelo “instrumento software“

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Dialtones (A Telesymphony) foi introduzido ao mundo pela primeira vez em Setembro de 2001 no Ars Electronica Festival em Linz na Áustria por Golan Levin, tendo sido também apresentado em Artplage Mobile de Jura na Suíça no ano seguinte.

Golan Levin é um artista e designer que se dedica em encontrar e criar novas formas de expressão audiovisual e torna-las em experiencias interativas. Aprendeu sozinho a programar computadores e estudou composição musical, pintura e desenho.

Com Dialtones Golan Levin quis trazer atenção para o aparecimento de novos modos de relacionamento sociais que surgiram com o uso cada vez mais frequente do telemóvel e transformar isso em um pedaço de obra interativa. Uma obra onde se integra todos os que compareçam para o concerto, transformando o objeto e a pessoa numa forma de expressão artística.

https://www.fondation-langlois.org/html/e/page.php?NumPage=229

A Vanguarda musical expressionista de Arnold Schoenberg

Ao que diz respeito a teoria musical, Schoenberg executou com excelência a sua forma e por isso foi capaz de construir um pensamento que fugisse de toda teoria determinada previamente. Se formos a raiz do significado literal da palavra vanguarda encontraremos isto: Linha de frente; o que se localiza à frente de; aquilo que inicia uma sequência.[1] Se formos pensar de maneira mais filosófica sobre o assunto, iremos nos deparar com a desconstrução de algum pensamento, ou de um ‘fazer’ artístico. Claramente, só podemos reconectar com este termo desta forma, porque para descontruir algum elemento, este tivera que ser construído no passado. É nisso que reside o pensamento de Schoenberg, digo, pensamento porque ele foi o criador do dodecafonismo, ou como preferirem, música atonal.

Este sistema se baseia na intercalação das doze notas dentro da escala atonal, e a música possui execução organizacional mais livre do que as músicas provenientes de escalas tonais, cuja organização se baseia em 7 notas com intervalos específicos entre elas, se articulando entre si de maneira a criar concordâncias e consonâncias que são convencionais aos nossos ouvidos.

As notas da escala atonal são organizadas de acordo com a vontade do compositor, a variação pode ser feita livremente, em velocidade, timbre ou ritmo, contudo, não pode haver a repetição de nota enquanto toda a sequência escolhida não passar por todas as doze notas da escala. É válido ressaltar, que essas musicas atonais quando ouvidas pela primeira vez, não são um mar de rosas, e mais parecem com algo muito intangível aos ouvidos humanos, julgo dizer que algumas pessoas podem achar que se trata de algo “insuportável”.

Ainda assim, é válido ressaltar a relação da música com a linguagem ou com a poesia, por exemplo. Podemos conectar estes conceitos quando pensamos que a poesia é feita por um conjunto de palavras que combinam entre si e se fazem concordantes, que se encaixam, de maneira a dizer mais ou menos coisas, de acordo com o objetivo do poeta. Com a música, é quase precisamente a mesma coisa. Tanto na música tonal quanto na atonal o compositor escolhe mais ou menos coisas que são pertinentes em suas músicas, quais sons, ritmos, intervalos, notas, etc. De certa maneira, poderíamos dizer que esses elementos musicais são quase equivalentes as palavras? É interessante pensar nisto e ainda ressaltar que, mesmo que os significados das palavras sejam mais palpáveis e tangíveis, poder-se -a dizer que para todo o leitor elas terão o mesmo significado? Arrisco dizer que não. As palavras podem ser também tão intangíveis quanto a música, se assim pensarmos. Ainda acrescento: a atribuição de significado na música será sempre relativa.  

Se compararmos uma musica tonal com uma música atonal, podemos dizer que a segunda foi feita sem nenhuma lógica de concepção e que de facto ela não possuí nenhum objetivo de significar. Mas, olhemos para o contexto histórico do compositor: Arnold Schoenberg era judeu, nascido na Áustria e esteve presente na ascensão do nazismo. Se ouvirmos sua música com essa informação, nossa visão já muda completamente, e entendemos um pouco do “caos” que ali se passa.

A música atonal pode não ser esteticamente agradável aos nossos ouvidos, entretanto seu raciocínio é extremamente articulado, com uma relação matemática significante, explorando também a expressividade do compositor em seu contexto histórico.


[1] https://www.dicio.com.br/vanguarda/

FUBINI, Enrico. Estética da Música. Lisboa: Edições 70, 2015

A Aceitação e Transmutação da Arte e a sua Expressão

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A arte é um largo conceito que se torna relativo consoante o tempo. Com isto chegamos a conclusão de ser um conceito com práticas voláteis no tempo. A nova aparição de uma prática causa confrontos no seio artístico envolvendo opiniões de polos opostos, e diversos teóricos consequentemente emergem em prol da integração de uma certa prática nas artes, e o seu devido reconhecimento. O cinema, a fotografia e até a música que no século XVIII a ideia que vivia no meio dos grandes pensadores era a assunção de que a música seria uma arte menor em comparação com a poesia e o teatro, também estas artes do tempo. Só no fim do século XVIII é que esta imagem desmoronou com Mozart e Haydn, só no início do seguinte século é que se afirmou “A estética de uma arte é igual à outra, só difere na matéria” (Enrico Fubini, Estética da Música, 1995, p.13), através da personagem Florestani criada por Schumann.

“Ao longo de vários séculos, a situação literária era tal que um número reduzido de pessoas que escreviam era lido por muitos milhares de leitores… Com a crescente expansão da imprensa, que cada vez mais colocava á disposição dos novos leitores novos órgãos… sectores cada vez mais amplos de leitores … passaram a pertencer ao grupo dos que escreviam” (Walter Benjamin, A Modernidade, 1936, p.226). Um leitor é especialista, tal como um fã de futebol se torna critico ao ver o seu clube, com isto ao nos interessarmos por um certo tema, e conhecendo as suas técnicas rapidamente podemos passar de público a autor.

A arte de massas tem a capacidade de moldar mentes, um exemplo é o cinema usado como uma ferramenta para fomentar o socialismo na União Soviética. A arte também pode ser reivindicativa como nas obras de Bansky onde a sociedade é posta sobre perspetiva.

Bansky, Soldier and Girl, 2007. Vidar (2022, Janeiro, 26) Girl Frisking Soldier – Banksy in Bethlehem, Street Art Utopia

Fubini, E. (Eds.). (2008) Estética da Música. Edições 70

Benjamin, W. (Eds.). (2006) A Modernidade. Assírio e Alvim.

Vagina Virtual

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Pensar uma obra de arte é mergulhar num enxame de complexidades. Neste artigo venho refletir como o meio, tal como Marshall Mcluhan diz, é a mensagem, analisando a performance ‘O Espelho da Origem’, apresentada por Deborah de Robertis no Museu d’Orsay em 2014.

“O espelho da origem”, performance de Deborah Robertis (2014)

Esta performance foi cogitada pela artista plástica Deborah Robertis em resposta à pintura de Gustav Courbet (1866). A performer toma aqui o lugar da pintura, sendo ela mesma, o meio, ou seja, aqui o meio já não é a pintura, mas sim o corpo desta artista, que ao colocar a sua vagina em frente a este quadro, permite criar mas também, reinterpretar o sentido desta mesma obra de arte. A artista diz, “O meu trabalho fala de um ‘buraco’, de um olhar ausente. Eu tomo o lugar da pintura de Gustave Courbet não porque eu acho que o mundo nasceu de uma mulher, mas precisamente para questionar esse ponto de vista na representação feminina. Não há mais nada a ser revelado na superexposição do sexo no nosso mundo contemporâneo, a não ser esse olhar. Esse olhar da modelo do pintor, de todas essas modelos que são expostas na arte, de virgens a putas. É a minha visão de um mundo onde grandes mestres são encarados de volta por elas. […] A minha abordagem lembra-nos que a história é contada nos dois sentidos, partindo de ambas as perspectivas.”.

Isto faz-me pensar no poder que o corpo tem, esse meio tão poderoso que muitas vezes é negligenciado, principalmente quando se fala no corpo da mulher. Quando a mulher decide domar as suas próprias rédeas e colocar à sua disposição aquilo que tem de mais poderoso que é o seu próprio corpo, e o utiliza como meio para a arte, para a sua própria empoderação, ainda nos dias de hoje isso é visto como algo desmerecedor de valor. Prova disso é precisamente o facto de esta artista plástica ter sido convidada a se cobrir e terem sido chamadas as autoridades para que a mesma se retirasse. No entanto, a pintura de Gustav Coubert continua intacta e no seu lugar, certo? Porque é que uma vagina pintada por um homem tem espaço num museu, mas uma mulher que apresenta a sua vagina, em crítica a essa mesma pintura, já é censurada?

No entanto, esta performance ainda me leva mais longe, ao facto de como os media, mais precisamente o computador e a internet, permitiram que eu descobrisse esta mesma performance. Esse é um dos maiores privilégios de viver nesta era da informação, porque foi através da internet que consegui ter acesso a uma das performances que mais me fez questionar como a história da arte está construída, e como o facto de alguém ter filmado esta performance e a ter colocado na internet, colocou ao dispor de todos aqueles que estavam ausentes no momento da realização desta performance, a possibilidade de no conforto das nossas casas, pensarem sobre este assunto tão importante que é a representação do corpo da mulher na arte feita pelos homens.

Bibliografia:

McLuhan M., 1967, O Meio é a Mensagem

A Intimidade do Teatro Pandêmico

Se refletirmos sobre a frase “O meio é a mensagem” de Marshal McLuhan, vamos concluir que o meio em que a mensagem é passada, pode ser mais importante do que a mensagem em si. Quando recebemos algum conteúdo pela televisão, ele será diferente do que receber o mesmo conteúdo via rádio, por exemplo. Com o conceito de McLuhan percebemos que a tecnologia muda a maneira em como a sociedade recebe e interpreta as mensagens.

Dito isso, ponho em questão. Se recebermos um mesmo conteúdo individualmente por um meio X, ele será interpretado da mesma maneira sendo recebido em conjunto com outras pessoas? Neste caso, volto a pensar na era pandêmica que ocorreu nos últimos 2 anos. Tivemos diversas modificações na maneira de transmitir a arte, e de, mais uma vez, recebê-las.

Por exemplo, o espetáculo Coleção de Amantes de Raquel André, teve algumas sessões online. O conteúdo deste espetáculo é de bastante proximidade com o público, entretanto, torna-se ainda mais intimo quando visto de casa, principalmente se estivermos sozinhos, diferentemente se visto em um teatro com outras centenas de pessoas. Coleção de Amantes é sobre alguns encontros ficcionais da atriz Raquel André com outras pessoas desconhecidas, para fazer/ falar sobre coisas aleatórias ou especificas. O conteúdo do encontro não é predeterminado. Ao decorrer do espetáculo, sentimos a ambiguidade da realidade. Será que ela fez realmente tudo que diz ter feito com cada pessoa? Ou será que ela estava a interpretar uma personagem que tivera feito todos esses encontros? No final do espetáculo, há uma série de áudios, que retratam diálogos retirados de alguns filmes, não são dela particularmente, contudo, faz parecer que são. Por estarmos tão imersos a intimidade do conteúdo e da proximidade que construímos com a atriz, residimos na dúvida.

O ponto importante é perceber qual o tamanho do impacto íntimo e pessoal que este espetáculo pode ter em cada pessoa. Ao assistir sozinhos, online, podemos sentir que a atriz está muito mais próxima de nós do que se tivéssemos assistindo dentro de um teatro. Isso faz com que a mensagem seja mais intima e penetre mais intensamente no nosso consciente.

Bibliografia:

McLuhan M., 1967, O Meio é a Mensagem

How do media influence the structure of social power?

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There are three broad stages in the development of media: the first is the physical medium, the second is from the invention of the printing press to the electronic medium, and the third is the network medium. The development of media facilitated the spread of knowledge, which in turn is inextricably linked to power.

Before paper was invented, the early ancient Egyptians would record knowledge by carving words into stone or through architecture, which made it difficult for knowledge to be disseminated, and the monopoly of knowledge by a few led to the concentration of power in the hands of a few. By the mid-15th century, the German Gutenberg developed movable type printing which made mass printing possible. The public were able to read the Bible directly, which broke the Church’s monopoly on doctrinal interpretation, and the Church’s power was gradually weakened.

The advent of electronic media made it easier to disseminate knowledge and the world began to no longer be dominated and ruled only by white men. As Marshall McLuhan writes in Understanding Media, ‘As electrically contracted, the globe is no more than a village. electric speed in bringing Electric speed in bringing all social and political functions together in a sudden implosion has heightened human awareness of responsibility to an intense degree. It is this implosive factor that alters the position of the Negro, the teen-ager, and some other groups. They are now involved in our lives, as we in theirs, thanks to the electric media (1994).”

The development of the media will not stop here, and more new media will emerge in the future, but no matter how the media develops, the trend of power transfer from the minority to the majority will not change.

Bibliography:

McLuhan M., 1994, Understanding Media: The Extension of Man, The MIT Press

Os Media enquanto intervenção social

Será que conseguimos alterar realmente algum problema social através dos meios sociais a que temos acesso? Sabemos que a Arte seja ela em que formato, pode ter um papel ativo nas mudanças sociais tal como disse a artista Norte-Americana Eunice Kathleen Waymon mais conhecida como Nina Simone num documentário chamado “What Happened, Miss Simone?” .

“Como podemos ser artistas sem refletir o tempo em que vivemos”
Trailer do documentário de 2015 disponível na NetflixWhat Happened, Miss Simone?

Neste documentário sobre a vida desta grande cantora que ultrapassou grandes períodos de dificuldade e de grande controvérsia com os direitos humanos enquanto artista e ativista afro-americana, testemunhando muitas vezes cenas de injustiça como o assassinato do líder do movimento dos direitos civis nos estados Unidos da América Martin Luther King Jr., e também Medgar Evers também um grande ativista proveniente do Mississípi. Miss Simone reflete em algumas músicas a revolta e injustiça que vê à sua volta e que ela própria “sente na pele” desde jovem.

Alguns exemplos das suas músicas são: “Mississippi Goddam” em que ela após a morte de Medgar Evers lança a “bomba” que a luta e a injustiça racial continuam e a desigualdade social na altura (e atualmente) a deixar vítimas inocentes. Outras músicas que refletem este estado de espírito são a “Blackbird”, “To Be Young Gifted and Black”, “Revolution” são as mais impactantes sobre o tema.

“Mississippi goddam” tocado em 1965
“Blackbird” música lançada em 1996

No caso português temos os casos de o grande cantor e trovador José Afonso que teve grande atividade e envolvimento na revolução conhecida como dos cravos a 25 de abril de 1974 que para além da mais conhecida música “Grândola Vila Morena” tem um reportório enorme de músicas de intervenção como “Os Vampiros” “O Menino do Bairro Negro” “Vejam Bem”, “A Morte saiu à rua”, “Os índios de Meia Praia”, “Venham mais Cinco”, enfim, a lista de canções de intervenção deste trovador não tem fim e todas descriminam as diferenças sociais, algumas falam da guerra do ultramar outras sobre a ditadura que ocorria sendo este preso simplesmente por expressar o seu descontentamento através da sua arte que, durante o estado novo em Portugal era um crime pois incitava a revolução, criticava a maneira como o país estava a ser governado e nesse sentido a música foi um agente mobilizador, juntou forças, uniu as pessoas que às escondidas iam ouvir o grande artista “Zeca” Afonso a tocar à noite. Um bom documentário acerca deste assunto é “José Afonso – Traz Outro Amigo Também” disponível na RTP1.

Trailer do Documentário lançado pela RTP1 disponível na RTP Play “José Afonso – Traz Outro Amigo Também”
“Vejam Bem” uma música que se desconhece a data de lançamento porém toda a música se aproveita do descontentamento geral sobre a ditadura vivida em Portugal: “E se houver uma praça de gente madura, e uma estátua de ferro a arder”.
“Venham mais cinco” uma canção já pelo título mobilizadora em que no refrão se torna ainda mais explicito a necessidade da revolução.

Refrão e duas estrofes da canção de José Afonso “Venham Mais Cinco”

“Não me obriguem a vir para a rua gritar
Que é já tempo d’embalar a trouxa e zarpar

A gente ajuda havemos de ser mais
Eu bem sei
Mas há quem queira deitar abaixo
O que eu levantei

A bucha é dura mais dura é a razão
Que a sustem
Só nesta rusga não há lugar
Pr’ós filhos da mãe”

O Leitor-Escritor prevalece?

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Nos tempos antigos, com a pequena quantidade de alfabetizados e ou eruditos, a quantidade de escritores era por sua vez várias vezes mais reduzida. No entanto, com o passar dos anos, a população mundana passou a educar-se mais, até como obrigatoriedade, passando então, o número de escritores a, também, aumentar.

Mesmo assim, não era qualquer um que se tornava escritor. Era necessária toda uma experiência, vivência, paixão, conhecimento e entre outros vários fatores que fariam desse mesmo autor conhecido por milhares.

Com o crescimento dos media, pouco a pouco, todos os conjuntos da sociedade se puderam tornar escritores de alguma forma: na altura, principalmente, começando pelos jornais, onde os leitores começaram a conseguir enviar às editoras as suas queixas, opiniões, dúvidas, críticas, entre outros, em artigo; um exemplo que ainda se mantêm presente atualmente é a revista Maria.

Imagem 1: Interação entre leitor-escritor e escritor na revista.

Entretanto, claro, com o desenvolvimento tecnológico, tornou-se ainda mais natural o ‘escritor diário’, especialmente com e nas redes sociais, como vemos, por exemplo, no Twitter: diariamente, dezenas de centenas de milhares de pessoas dão entrada na rede e escrevem tudo o que desejam, quer seja a descrição do seu dia, uma critica ao patrão rígido que, se calhar, na sua conta também escreveu um comentário depreciativo dirigido à sua empregada preguiçosa, ou até uma recomendação de um livro, série ou filme, como são os ‘pequenos jornalistas/informadores’, como lhes gosto de chamar.

Imagem 2: Comentário de um cidadão na rede social.

Esta linha entre ‘escritor’ e ‘leitor’ torna-se cada vez fina, complicando a sua distinção. Deixo-vos, portanto, com a pergunta: Com toda esta grande mancha crescente de ‘escritores’ existentes, quais seriam mesmo considerados os verdadeiros escritores que, genuinamente, fazem jus ao seu título?

BIBLIOGRAFIA:

– Walter Benjamin – A obra de arte na sua era de reprodutibilidade técnica

– Twitter (https://twitter.com/)