Multimedia: From Wagner to Virtual Reality, de Ken Jordan e Randall Packer, é uma obra que explora o conceito de “multimédia”, traçando uma linha cronológica que tem início naquele que os autores consideram ser o seu momento fundador. Apesar de o desenvolvimento do multimédia estar intrinsecamente relacionado com o surgimento do computador, e de a área se ter desenvolvido essencialmente a partir do século XX, a verdade é que, já em meados do século XIX, o compositor alemão Richard Wagner, em A Obra de Arte do Futuro, preconizava uma conceção de arte que viria a ser potenciada pelo desenvolvimento tecnológico, e nomeadamente pela área da computação. Wagner inaugurou a ideia de obra de arte total (Gesamtkunstwerk), que se concretizaria através da confluência de várias formas de arte, como a música, a dança, o teatro, as artes visuais e a arquitetura. Wagner procurou dar corpo a esta conceção teórica através da ópera, não só aliando as artes performativas às artes visuais, mas também idealizando uma nova arquitetura do espaço físico onde decorreria o espetáculo, de modo a que o público realizasse um processo pleno de imersão na sua ação . Um exemplo prático desta situação é o facto de a orquestra se encontrar numa posição estratégica, mais baixa, de forma a que o público pudesse apenas ouvi-la. Além disso, neste espaço, não havia lugares de destaque na plateia, que diferenciassem estatutos sociais – os lugares encontravam-se todos ao mesmo nível, o que aponta para um desejo de democratização artística.

(Disponível em: http://seedmagazine.com/content/article/the_wagnerian_method/ )

 

Mas como podemos relacionar esta forma de idealização artística com a área do multimédia?

Na verdade, a ideia de obra de arte total partilha, pelo menos, duas das características que Jordan e Packer apontam como definidoras do conceito em análise: a integração, através da junção das várias artes, e a imersão, exponenciada pela conceção arquitetónica do espaço acima descrita. O uso do computador aplicado à arte veio facilitar a agregação entre diferentes expressões artísticas, proporcionando, em última análise, formas de arte híbridas. Podemos, assim, concluir que a arte como forma de expressão totalizante idealizada por Wagner, no século XIX, viria a ser potenciada pelo progressivo e permanente desenvolvimento do mundo multimédia.

Joana Maia