Nam June Paik foi um compositor, performer e artista de vídeo coreano, de grande relevância nos anos 60 e 70 do século XX, ao desempenhar um papel importantíssimo na introdução do uso do vídeo como forma de expressão artística.
O artista formou-se em História da Arte e História da Música no Japão e prossegui os estudos na área da música na Alemanha. Conheceu os compositores Karlheinz Stockhausen e John Cage com que tomou contacto com a música electrónica e desenvolve alguns trabalhos conjuntos. É neste contexto que surge em Paik um interesse pela arte electrónica. Pertenceu ao célebre grupo neo-dadaista Fluxus, cujos trabalhos mesclavam diversas formas artísticas e punham em causa as noções pré-estabelecidas sobre a sociedade e a arte. Foi desta forma que Paik tendencialmente trabalhou, cruzando artes distintas e pondo em causa concepções sociais, particularmente aquelas que se relacionam com a televisão.
O aparecimento da televisão foi motivo de algumas transformações, desde logo no comportamento das pessoas dentro dos seus lares que, com o aparecimento deste “novo membro”, alteraram e reduziram a sua comunicação familiar. O acesso à informação foi facilitado, o que por um lado foi positivo, mas por outro teve a capacidade de nos tornar mais passivos e menos críticos. A televisão tornou-se num meio capaz de formar opinião, influenciar decisões e pautar os assuntos de discussão diária. Acompanhando estas mudanças e ciente da influência da televisão sobre o seu público, Paik interessou-se em trabalhar com a imagem de vídeo.
Nos anos 60, altura em que a televisão já se encontrava presente nos lares de muitas famílias, Paik desenvolveu um trabalho que ficou conhecido com “Magnet TV”, que consistia em provocar distorções na imagem televisiva com o auxílio de um íman.
O vídeo seguinte é exemplificativo das distorções na imagem televisiva, que qualquer um pode facilmente provocar recorrendo a um íman.
O projecto de Paik foi exibido na “Exposition of music-eletronic television” de 1963, onde foram colocadas várias televisões cujas imagens eram distorcidas de diversas formas por ímanes. Assim, o artista veio provar ao público que a imagem televisiva não é inerte, podendo facilmente ser distorcida e manipulada.O vídeo segunite não corresponde ao trabalho executado por Paik, mas a um experiência posterior onde as distorções de imagem surgem sincronizadas com som.
Mas porque é que isto acontece? A imagem televisiva é definida por feixes de electrões que incidem sobre pontos específicos da tela. Estes feixes sucedem-se em pequenos intervalos de tempo, criando a ilusão de movimento, da mesma forma com a sucessão de fotogramas o faz no cinema. A distribuição dos electrões na tela é ajustada na tela por ímanes. Quando aproximamos um outro íman da televisão estamos a interferir nesse campo magnético e alterando a forma como os electrões se distribuem no ecrã.
Os trabalho televisivos de Paik foram pioneiros na introdução da imagem de vídeo no meio artístico, sendo por esse motivo considerado um dos precursores da vídeo-arte.
A vídeo-arte, nas suas mais diversas formas, veio trazer novos elementos ao debate sobre a criação artística ao utilizar um meio inovador e possibilitar novas formas de representação.
Com o “Magnet TV”, bem como uma série de outras performances e instalações, Paik veio propor que se pensasse na televisão não apenas como um objecto do quotidiano de conteúdo programático. Este introduz a televisão como um meio de expressão artística através da exploração das suas possibilidades técnicas.
Ana Rita Freitas, Francisco Pereira e Joyce Lopes