A «Ode Triunfal» será poesia ou algo sonoro? Penso que será um misto dos dois em que Álvaro de Campos nos dá uma sobreposição entre o futurismo de Marinetti e o sensacionismo de Walt Whitman. Mas porventura também pode ser considerado multimédia?
Essa dúvida tentar-se-á esclarecer com o pensamento escrito que se segue. Quando a caracterizamos à luz da literatura, a «Ode Triunfal» é poesia em virtude de estar escrita em verso livre e amplo, que tem um total de 240 versos, num estilo verdadeiramente inovador nomeadamente no tocante às exclamações e interjeições “Eia! Há-lá “ etc. Por outro lado é de considerar algo sonoro (poema sonoro) quando o descrevemos tendo como base os padrões básicos dos futuristas, notando-se quando usam na escrita a sensação das sonoridade das máquinas, dos motores, da velocidade, do movimento e também a ideia do ritmo e das repetições.
Neste texto de Álvaro Campos tudo é usado em demasia, visto que ele canta os motores, as máquinas, a velocidade, a civilização mecânica e industrial, a sensação de alguma projecção erótica do corpo, bem como as corrupções e outros itens associados ao mesmo à luz do futurismo. Nota-se que Álvaro Campos tem algum desrespeito ou tenta fazer desaparecer os preconceitos preconcebidos por Marineti.
Assim ele tenta esquecer o antigo e cantar só o futuro, como é visível no seu poema, no qual ele faz uma fusão quase perfeita, fazendo por isso uma espécie de farsa (parábola) da vida moderna. Também se pode afirmar que a «OdeTriunfal» contém um desejo de movimentação absoluta de tudo o que existe, onde o futurismo é de certa forma aglutinado pelo sensacionismo.
Para dar resposta à questão que inicialmente coloco, “também pode ser considerado multimédia? “, penso que existe matéria suficiente para afirmar que este poema manifesta implicitamente o desejo de arte e multimédia na literatura e a experimentação literária do séc. XX com o desejo da simulação do real, em virtude da utilização de multimeios que nos dão a sensação de repetições do movimento e de variadas sensações corporais e outras. Por outro lado, já o termo Ode personifica um canto de glorificação, de exaltação, de heroísmo, de algo ou de uma singular pessoa, cmo se pode verificar nesse poema sonoro de Álvaro de Campos (feito em 1915) em que ele exalta algum aspecto tipo artificial a todos os níveis como se pode verificar nestes fragmentos: «Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r eterno! Hé-lá as ruas, hé-lá as praças, hé-la-hó la foule! Hup-lá, hup-lá, hup-lá-hô, hup-lá! Hé-lá! He-hô Ho-o-o-o-o! Z-z-z-z-z-z-z-z-z-z-z-z!»
Assim tudo se conjuga numa perfeita harmonia simbiótica da arte multimediada através da utilização de todos os meios literários (recursos de carácter estilístico e linguagem diversa), tendo em conta também o aproveitamento da linguagem própria dos futuristas, ou seja alteração da linguagem com o intuito da divergência do original.
Francisco Manuel Relva Pereira