Imaginem estarem sentados no sofá a ver televisão e de repente o que estão a ver é interrompido por uma imagem arrepiante de uma figura que parece um boneco? Então isto aconteceu em novembro de 1987 com os espetadores de dois canais televisivos americanos, o WGN-TV e o WTTW.
No canal WGN-TV estava a passar um segmento de notícias quando de um momento para o outro o ecrã fica preto e aparece uma figura com uma máscara de borracha e de óculos de sol que se parecia com uma celebridade da pop culture americana dos anos 80, Max Headroom. Sem áudio e com uma duração de segundos, a figura apenas balançava enquanto sorria.
O segundo incidente deu-se no segundo canal referido, os espetadores estavam a ver um episódio de Doctor Who quando a figura aparece novamente, desta vez durante mais tempo e com áudio.
Os espetadores caracterizaram estes dois ataques como arrepiantes, mas cómicos ao mesmo tempo. Outros, claro, ficaram chateados pois o episódio da sua série favorita foi interrompido.
Existe um elemento de mistério associado a estes incidentes pois as suas intenções são até hoje desconhecidas tal como o autor. Muitos especulam que terá sido um protesto de alguém que trabalhava nos canais pela forma como estes eram geridos, mas nada se sabe ao certo.
Também não há uma mensagem clara, a personagem é sarcástica, ridiculiza aspetos da cultura americana e menciona séries e anúncios de televisão da época. Então, a interpretação cabe a cada um que veja os clips destas interrupções televisas.
O que se sabe de facto, é que passados 34 anos este incidente continua a ter relevância e o autor certamente não antevia que passados tantos anos esta sua prank continuasse a ser discutida.
Bibliografia:
Serena, Katie. “The Story of America’s Creepiest Unsolved TV Hack.” All That’s Interesting. 25 May 2021, allthatsinteresting.com/max-headroom-incident.
Tap, Tap, Tap, Tap, Tap. Parando só de quando a quando para ajeitar thick fringes, daquelas que se armavam com muita laca, a classe feminina de técnica comercial do St. Joseph’s College faz original proveito da sua máquina de escrever. Sim, que certa manhã não caíram as alunas da prestigiada instituição britânica na mesmice cautelosa da transcrição de manuscritos (que calhava não raras vezes os dedos donzelos serem traídos pela alta velocidade e o tipo imprimir o caractere indevido!) – agora, em aleatória maravilha, elas seriam eficientes retratistas! E quem diria que, quase setenta anos volvidos, Cathy Dalton havia de encontrar, perdida no seu sótão, entre tantos outros artefactos, essa memória experimental que em dezembro de 1955, vergando grafia à criação artística, faria expirar a semântica, a sintaxe, a morfologia, a pragmática, a fonética e até a fonologia… Ora, é que servindo-se da linguagem como mero “ato performativo”[1], o achado de baú vem confirmar senão a ideia magna de “A Morte do Autor”(1968), pérola da filosofia moderna na qual Roland Barthes, sustentado nos subsídios da crítica literária, defende a importância da matéria escrita sobre a intencionalidade do sujeito que a produz, votando o leitor ao novo soberano da literata, ele, “o homem sem história, sem biografia, sem psicologia, que tem reunidos num mesmo campo todos os traços que constituem o escrito”[2]. Quer isto dizer, ainda que não negando a existência de uma autoria- veja-se, no caso, a dona da máquina como o “homem físico” barthiniano-, a verdade é que este inusitado aproveitamento da datilografia recusará, no entanto, a presença do agente criador como a “chave” que decifra o signo linguístico, ao espetador antes outorgada a responsabilidade de saber querer tomar literais os grafemas, percebê-los despojados da sua função primária, ao jaez de puro suporte criativo. Ou, por outra, produto do sobe e desce fortuito de teclas metálicas, a sortida reunião alfabética de Dalton e das suas companheiras, totalmente alheada da comunicação verbal, nada mais pretende que formar blocos das várias gamas que tem o cinza, quando ao longe vista tornada sagração a preto e branco do rosto de Isabel II, por ora recém-coroada rainha…
A quem queira apreciar a relíquia da antiga aprendiz de St.Joseph’s à luz do “O que quis o autor dizer nas suas linhas?”, lhe digo, portanto, que evite gastar o seu tempo, nas boas vivas à miopia, com três neurónios do hemisfério esquerdo [3] quase em combustão. Pois terá, com licença, que me desculpar o mais popular, mas, citando pela última vez o francês, “uma vez o autor afastado, a pretensão de «decifrar» um texto tornou-se já inútil”[4], e, dessarte, sensato talvez aqui seja aquele da taxa nunca arreganhada, que leva tudo, tudo, mesmo tudo, à letra.
Em cima, Cathy Dalton mostra o retrato que terá feito em contexto de sala de aula, recorrendo exclusivamente à sua máquina de escrever. Em baixo, por sua vez, um grande plano dessa obra que tenta representar a rainha Isabel II, aqui poeticamente emoldurada pelas mãos engelhadas da sua já octogenária autora. (Ambas a fotografias são da câmara de Warren Buckland e formam a secção imagética de “Haw’s Bay Today: Queen Elizabeth death: Hastings woman plans to frame portrait of monarch she created with typewriter”, artigo do jornal eletrónico New Zealand Herald, disponível na íntegra em https://www.nzherald.co.nz/hawkes-bay-today/news/queen-elizabeth-death-hastings-woman-plans-to-frame-portrait-of-monarch-she-created-with-typewriter/RA6CCKMKYBW2FGC45I7PNG5AKU/ (a saber, consultado no dia 28 de outubro de 2022).)
[1] C’est que (ou il s’ensuit que) écrire ne peut plus designer une opération d’enregistrement, de constatation, de représentation, de “peinture” (comme disaient les Classiques), mais bien ce que les linguistes, à la suite de la philosophie orxfordienne, appellent un performatif, forme verbale rare (exclusivement donnée a`la primière personne et au présent), dans laquelle l’énonciation n’a d’autre contenu (d’autre énoncé) que l’acte par lequel elle se profere. (BARTHES, 1968, p.64.l.18-24.)
[2] “[…] le lecteur est un homme sans histoire, sans biographie, sans psychologie; il est seulement c’est quelqu’un qui tient rassemblées dans un même champ toutes les traces dont est constitué l’écrit.” (BARTHES, 1968, p.67. l.1-3.)
[3] Alusão ao hemisfério esquerdo do cérebro humano, do qual depende predominantemente a linguagem na maioria dos indivíduos. Com efeito, estudos recentes apontarão para que, em cerca de 96% da população mundial, dele dependam todas as funções ligadas à gramática, ao vocabulário e à construção de sistemas fonológicos. (GJERLOW, K. OBLER, L.K, 2002, p.23, l.8-10.)
[4]”L’Auteur une fois éloigné, la prétention de «déchiffrer» devient tout à fait inutile.”.(BARTHES, 1968, p.65, l.28-30.)
Bibliografia
BARTHES, R. (1968). La mort de l’auteur, Manteia, no. 5: 12-16. (O documento terá sido disponibilizado pela docente da unidade curricular na plataforma UCStudent> Arte e Multimédia > Materiais>Tópico 2. Experimentar com o Meio> 1_barthes_morte_autor_en_fr.pdf. )
GJERLOW, K. OBLER, L.K (2002). A Linguagem e o Cérebro. Instituto Piaget: Lisboa.
A Instalação é uma forma de arte em que amplia ambientes em cenários de tamanhos de salas. A pintura, a escultura entre outros meios são usados para realçar o espaço arquitetônico.
A Instalação pode só existir na hora como pode ser mostrada e recriada noutro local. Diferente de uma pintura, a intervenção do artista não é nítida.
O objetivo do artista ao produzir a sua obra é a própria essência da mesma. A Instalação tinha a necessidade de mexer com os sentidos do público, quase como obrigá-lo a experimentar sensações.
Artistas que podem ser destacados na Instalação são Christo e a sua mulher Jeanne-Claude.
Uma das características das obras deste casal é chamar a atenção para algo que esteja no ambiente. Por exemplo, nas obras de embrulho, como a obra das “Ilhas Cercadas”, eles isolam a paisagem precisamente para fazer com que o público note a presença da mesma.
A 7 de maio de 1983, por apenas duas semanas, o casal cercou 11 ilhas, na Baía da Biscaia, em Miami, com, aproximadamente, 600 mil metros quadrados de tecido rosa tapando a superfície da água em mais de 50 metros à volta de casa ilha. O projeto aconteceu em maio de 1983, mas já em 1981 havia pessoas a trabalhar neste projeto.
Durante estas duas semanas, as Ilhas Cercadas foram vistas, abordadas e desfrutadas pelo público, das estradas, da terra, da água e até do ar. Foram costurados 79 padrões para o tecido seguir os contornos das 11 ilhas.
O casal foi quem financiou o projeto inteiro, quer através da venda de obras prévias quer de desenhos e colagens do projeto. Eles não aceitaram nenhum patrocínio Para este projeto ser aprovado foram necessárias várias licenças.