Em 2020, foi lançado o GPT-3 (transformador generativo pré-treinado 3). Esta tecnologia é um modelo de linguagem que utiliza de uma forma de aprendizagem profunda para produzir textos semelhantes ao humano. E sua precisão é tão grande que chega a ser difícil distinguir um texto produzido pelo GPT-3 de um texto produzido por uma pessoa – a ponto de ser avaliado pela New York Times como capaz de escrever uma prosa original com fluência equivalente a de um humano. O que levanta duas questões principais: seria a intelência artificial um autor? e progamas como o GPT-3 poderiam causar o fim do autor humano?
Em 1968, o filósofo francês Roland Barthes publica o seu ensaio entitulado Morte do Autor, no qual define que “é a língua que fala, e não o autor”. Para Barthes, tudo o que é escrito não passa de uma transcrissão de um compilado de referências culturais. Assim, a perspectiva do autor é desconsiderada e a obra não precisa ser explicada pela vivência de quem a produziu. Critícos como Barthes, e até mesmo Foucault, defendem que a interpretação de uma obra por parte de qualquer leitor não deve ser influencida por quem a escrever. Partindo desta visão, sim, o GPT-3 seria um autor. Mas existe outro ponto a ser levado em consideração.
A arte é uma expressão da imaginação e da habilidade criativa humana e passa a ser apreciada pelas emoções que gera e transmite. Por mais que a inteligência artificial possa gerar e transmitir emoções, esta não tem capacidade imaginativa e criativa. Tudo o que foi escrito e criado por uma inteligência artificial utiliza referências encontradas no seu banco de dados. O artista alemão Mario Klingemann levanta um ponto interessante sobre a arte reproduzida pela inteligência artificial: “no processo de produção a IA perde aspectos subconscientes e emocionais que os humanos acrescentam à comparação, mas isso não é porque a máquina não tem alma, mas porque esses aspectos são muitas vezes difíceis de quantificar”. Corroborando com a opinião de Klingemann, a artistas Anna Ridler afirma ver a inteligência artificial como um estimulador. Assim como a fotografia que modificou os retratos, mas ninguém deixou de pintar pessoas por conta deste avanço tecnológico.
Em suma, mesmo que programas como o GPT-3 possam produzir textos semelhantes aos humanos, isso não garente o fim de artistas e autores. E ainda devem ser encarados como formas de renovação e utilizados para uma possível reforma artística.
BIBLIOGRAFIA
A inteligência artificial pode ser considerada “dona” de uma obra? https://glicfas.com.br/inteligencia-artificial-dona-de-uma-obra/
GPT-3: a inteligência artificial mais poderosa já criada! https://blog.betrybe.com/tecnologia/gpt-3-inteligencia-artificial/
Morte do Autor, Roland Barthes (1968)
O que é um autor?, Michael Foucault (1969)